Teses e Dissertações

2016

 

 

 

BARBIN JR., Helio

MÉDICOS, MEDICINA ALTERNATIVA, BIOMEDICINA NO SUS EM FLORIANÓPOLIS

Orientador: Profª. Dra. Esther Jean Langdon

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

A crescente demanda de profissionais e usuários por práticas de medicina alternativa e complementar (MAC) tem aumentado significativamente nos últimos anos em vários países do mundo ocidental. Este aumento tem a ver com a insatisfação das pessoas com a medicina biomédica e a busca por uma vida espiritualizada mais próxima da natureza. No Brasil, essas práticas têm sido discutidas no Sistema Único de Saúde há vários anos, em 2006 o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares que regula a implementação de Práticas Alternativas e o fortalecimento do pluralismo médico no Sistema Único de Saúde (SUS) . A partir de entrevista com os médicos que implementaram essas práticas nos Centros de Saúde e Policlínicas do SUS na cidade de Florianópolis, verificamos que a adoção das Medicinas Complementares e Alternativos (MAC) nos Centros de Saúde acontece através de sua domesticação pelo sistema biomédico, diferente dos médicos que trabalham nas Policlínicas que valorizam suas especialidades, acupuntura e homeopatia. Por um lado, podemos observar a criação de profissionais híbridos nos Centros de Saúde utilizando várias terapias simultaneamente no mesmo paciente, e por outro lado nas Policlínicas os profissionais especializados em acupuntura e homeopatia utiliza-se de diferentes terapias ou especialidades em diferentes pacientes. Nos Centros de Saúde onde hibrido esta localizado no profissional, podemos notar que nas policlínicas o hibrido esta localizado na instituição do SUS.

Palavras-chave: Biomedicina; Medicinas Alternativas e Complementares; SUS.

 

CAMARGO, Marcelo Giacomazzi

ENTRE LINHAS: MOVIMENTO E POLÍTICA A PARTIR DE UM TERMINAL DE ÔNIBUS EM FLORIANÓPOLIS/SC

Orientador: Prof. Dr.  Rafael Victorino Devos

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

O Terminal de Integração do Centro (TICEN) é o principal terminal de transporte público da cidade de Florianópolis, e o foco do presente trabalho. Através de etnografia realizada ao longo do ano de dois mil e quinze, analiso nesta dissertação as potencialidades múltiplas dos movimentos pelo terminal, a partir dele e relacionados a ele. Nesta análise, priorizo as maneiras que distinções, aproximações e afastamentos entre pessoas, assim como operações de categorias de cidadão, são criadas e mantidas através de estratégias de movimento. Também questiono a coerência de um imaginado sistema unificado de transporte e passo a averiguar como as diferentes maneiras de se inaugurar e navegar por circuitos urbanos agenciam forças políticas, éticas e econômicas. Por
final, direciono a atenção para a política de transporte em termos mais amplos, expondo etnograficamente diferentes maneiras de movimentar cidadãos, empresas de transporte, o poder público e a paisagem urbana. Penso em como estas constituem, através das diferenças no engajamento ambiental, modos distintos de abordar politicamente as reformulações do
transporte coletivo e consequentemente das divisões da cidade.

Palavras-chave: transporte; ambiente; movimento; mobilidade; antropologia urbana.

 

GHIGGI JR., Ari

UMA ABORDAGEM RELACIONAL DA ATENÇÃO À SAÚDE A PARTIR DA TERRA INDÍGENA XAPECÓ

Orientador: Profª. Dra. Esther Jean Langdon

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta tese é uma etnografia sobre as dinâmicas terapêuticas no campo de atenção à saúde mapeadas a partir da Terra Indígena Xapecó (TIX), oeste de Santa Catarina – uma região marcada pela violência estrutural que relega às populações autóctones posições subalternas em relação às condições básicas de cidadania e sobrevivência. A temática da atenção à saúde é tomada aqui como chave para, por um lado, demonstrar as condições de saúde dos Kaingang e, por outro, elucidar a riqueza de estratégias e práticas sociais que retratam o contato dos indígenas com as populações vizinhas. Além de um contexto interétnico, o campo da atenção à saúde que perpassa a TIX é uma zona intermédica marcada pela interpenetração de diferentes modelos de atenção à saúde e pelo hibridismo entre as tradições médicas presentes. A compreensão das dinâmicas terapêuticas neste campo foi tomada a partir de uma abordagem relacional que partiu de dois pontos de vista interrelacionados: por um lado, valorizou as intencionalidades de procura e, por outro, as de oferta terapêutica. Com relação à procura terapêutica, a análise dos itinerários terapêuticos demonstrou a autonomia e o empoderamento dos sujeitos e grupos domésticos na articulação de diferentes formas de atenção à saúde utilizadas na atuação pragmática frente às enfermidades que vivenciam – além do trânsito e circulação por diversas localidades da região e para além desta. Com relação à oferta terapêutica, foi possível reconhecer e explorar a pluralidade de recursos que guiam as escolhas dos Kaingang nos seus itinerários terapêuticos. Esta dimensão foi abordada a partir das quatro redes terapêuticas que perpassam a TIX: os crentes e as igrejas evangélicas, os católicos “tradicionais”, a pastoral da saúde e os serviços oficiais de saúde. A abordagem destas redes, tomadas como arranjos organizativos, enfatizou a atuação de agentes, a consolidação de espaços, rituais e práticas que transcendem os limites da TIX. Enfim, tomar os indígenas num contexto relacional teve como objetivo amplo subsidiar uma problematização sobre a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), mais especificamente, sobre o princípio da atenção diferenciada que indica o respeito às práticas tradicionais e a sua articulação com as rotinas dos serviços oficiais de saúde. Esta problematização investe contra uma noção essencializada de cultura e uma imagem do índio genérico e isolado, que impregnam concepções políticas e atitudes de profissionais na área da saúde e cerceiam seus direitos enquanto cidadãos brasileiros.

Palavras-chave: Índios Kaingang, Atenção à Saúde, Abordagem Relacional.

 

GONÇALVES, Diego Pontes

CORPO E CIDADE À LUZ DA GENTRIFICAÇÃO: PERCURSOS ERRANTES PELA REGIÃO DA LUZ NA ILHA DA MAGIA

Orientador: Profª. Dra. Alicia Norma González de Castells

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Por meio de saídas de campo na região da Luz na Ilha de Florianópolis – SC e do registro de fragmentos de seu cotidiano em seus múltiplos usos e sentidos, este trabalho parte da valorização das errâncias urbanas que se desdobram pelos caminhos da Luz e tensionam as demandas higienizadas, pacificadas e pasteurizadas que envolvem as relações entre o corpo e a cidade contaminadas por processos de gentrificação urbana.

Palavras-chave: Corpo; Cidade; Gentrificação; Errâncias Urbanas.

 

MARTINS, João Rodrigo Vedovato

PERFORMATIVIDADE DE GÊNERO NA INFÂNCIA EM UMA ESCOLA DA PERIFERIA DE SÃO PAULO

Orientadora: Profª Drª Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Na presente pesquisa analiso a performatividade de gênero de crianças em uma Escola Municipal de Educação Infantil na periferia da região nordeste da cidade de São Paulo – o distrito do Tremembé – refletindo antropologicamente sobre a constituição de feminilidades e masculinidades periféricas na infância. Neste campo foi observado o brincar, aqui tomado como uma atividade privilegiada, na qual o marcador de gênero aparece em ação, em uma conflitiva socialidade que demonstrava tanto rupturas quanto reafirmações da heteronormatividade e de categorias de gênero hegemônicas gestadas nas periferias. Nesse contexto etnográfico, as próprias crianças explicitaram elementos articulados com categorias de gênero que eram constituidores de suas identidades e experiências sociais enquanto sujeitos: caso do funk e do universo do crime. Assim, coube considerar a produção de sujeitos generificados no universo do funk e do crime, na chave de prescrições e condutas, evidenciando as referências que as crianças faziam a ambos no brincar e nas brincadeiras.

Palavras-chave: Antropologia da criança. Performatividade de gênero. Escola. Periferia.

 

NAZAR, Pedro Cristian Musalém

XAMANISMO, MEMÓRIA E IDENTIDADE: TRANSFORMAÇÕES E CONTINUIDADES NOS PROCESSOS POLÍTICOS DOS SIONA NO PUTUMAYO, COLÔMBIA

Orientador: Profª. Dra. Esther Jean Langdon

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta tese estuda, de uma perspectiva histórica, uma série de transformações que os Siona (Tucano ocidental) do Putumayo colombiano têm atravessado no último século. Após acompanhar alguns sujeitos – meus colaboradores –, e examinar a bibliografia prévia sobre os Siona, elaboro etnograficamente um argumento sobre memória, política e etnicidade que passa pelo exame das transformações nos âmbitos da chefia e dos rituais xamânicos. O material leva a traçar a história dos últimos 35 anos centrada na aldeia indígena de Buenavista e que inclui alguns pontos vizinhos, bem como nas trajetórias de indivíduos e famílias que saíram de lá para morar nas cidades de Mocoa e Puerto Asis. Este contexto é marcado por forças, fenômenos e agências específicas: os cultivos de coca, o narcotráfico, a guerra entre o Estado e as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia, FARC, o desenvolvimento do movimento indígena e de um dispositivo estatal indigenista articulado durante a década de 1990. Dado esse contexto, descrevo a formação de redes interétnicas e organizações políticas, nas quais os xamãs têm um papel destacado.

Palavras-chave: Siona; Xamanismo; Etnicidade; Política; Putumayo; Colômbia.

 

OLIVEIRA, Melissa Santana de

SOBRE CASAS, PESSOAS E CONHECIMENTOS: UMA ETNOGRAFIA ENTRE OS TUKANO HAUSIRÕ E ÑAHURI PORÃ, DO MÉDIO RIO TIQUIÉ, NOROESTE AMAZÔNICO

Orientador: Profª. Dra. Antonella Maria Imperatriz Tassinari

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta tese tem como objetivo central investigar continuidades, descontinuidades e inovações em processos de construção de pessoas (mahsã), clãs (mahsã kurari) e conhecimentos (mahsĩse), tendo como pano de fundo as transformações da casa. Para tanto, parte da realização de uma etnografia contemporânea entre os Tukano dos clãs Hausirõ e Ñahuri porã, moradores do trecho médio do rio Tiquié, afluente do Uaupés, TI alto rio Negro, Noroeste Amazônico. A tese está dividida em três partes, através das quais busco analisar: (1) o lugar do conhecimento nas estratégias de (re)produção desses clãs ao longo da história; (2) o modo como processos de atualização e transmissão de conhecimentos em fases marcadas do ciclo de vida da pessoa ocorrem na contemporaneidade; (3) experimentos de construção, transmissão e circulação de conhecimentos próprios (mahsĩse) em diálogo com modos de conhecimentos dos brancos (buese). A partir de analogias encontradas nas três esferas analisadas, demonstro como a composição de duplas e a constituição de relações de companheirismo e aliança, esquecimentos, abandonos, experimentações, testes e abrandamentos caracterizam modos contemporâneos de construção de pessoas, atualização de clãs, produção e transmissão de conhecimentos.

Palavras-chave: conhecimentos, pessoas, clãs, casa, Tukano, alto Rio Negro, Noroeste Amazônico.

 

PRADO, André Igor Oliveira

SAÚDE, ADOECIMENTO, ATENÇÃO E AUTOATENÇÃO ENTRE PESSOAS ATINGIDAS PELA HANSENÍASE EM TERESINA (PIAUÍ, BRASIL)

Orientador: Profª. Dra. Eliana Elisabeth Diehl

Mestrado em Assistência Farmacêutica – UFSC

RESUMO

Esta dissertação é sobre a hanseníase. A partir da perspectiva dos sujeitos atingidos pela hanseníase em Teresina, Piauí, buscamos descrever suas concepções de saúde e doença e as estratégias de atenção e autoatenção utilizadas para recuperar a saúde, bem como as interfaces da Assistência Farmacêutica com esses processos. Sob a lente de método qualitativo etnográfico, buscou-se descrever os processos de saúde-doença-atenção de pessoas atingidas pela hanseníase em Teresina, onde endemia tem incidência muito alta. Através de observação participante, entrevistas abertas e semiestruturadas, descrevemos as redes de itinerários terapêuticos oficiais e alternativas articuladas pelos indivíduos, sua relação com a cadeia de serviços de Assistência Farmacêutica, e o processo de adoecimento e cura, bem como as estratégias de atenção e autoatenção utilizadas na luta contra a hanseníase. Destacamos a forma com que os usuários articularam a rede oficial de serviços de saúde, a partir de suas experiências individuais e coletivas, bem como a estratégia de autoajuda em torno do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, o Morhan, como importante estratégia de autoatenção utilizada para a superação da sickness hansênica. Como parte do Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica, descrevemos como a cadeia de serviços carece de estratégia, destacando pontos fundamentais para intervenção farmacêutica. Importantes desafios para a superação da hanseníase em Teresina foram levantados pelos sujeitos atingidos pela doença. Se mostrou necessário fortalecer e incentivar a integração dos serviços oficiais com as redes criadas pelos usuários, em especial com o Morhan.

Palavras-chave: Hanseníase. Pesquisa qualitativa. Assistência Farmacêutica. Autoatenção à saúde.

 

SILVA BASSO, Lianor Maria Mattos e

MEMÓRIAS DO FUTURO: OLHARES DA COSTA DA LAGOA DA CONCEIÇÃO

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

O presente trabalho propõe uma reflexão sobre processos educativos e espaços de aprendizagem através de uma etnografia da Costa da Lagoa da Conceição, comunidade situada em Florianópolis (SC). A pesquisa foi realizada a partir de uma metodologia que priorizou a escuta e participação das crianças e a utilização de fotografias e vídeos como ferramenta de investigação e produção do conhecimento. O estudo mostra como o desenvolvimento de metodologias que valorizam as trajetórias cotidianas podem contribuir para uma vida mais sensível e consequentemente um processo de aprendizagem mais significativo para todos. A partir das imagens produzidas e compartilhadas em diferentes meios, evidenciaram-se conexões entre percepções, memórias, educação e o conceito de habitação. Inspirada e em diálogo com autores como Tim Ingold, Merleau-Ponty, Freire, Cohn e Agostinho da Silva. Participaram do processo 10 crianças entre 8 e 11 anos, nativas da comunidade. Entre trilhas e caminhos da Costa fortaleceram-se os vínculos e é colocado em prática o fazer antropológico trazendo, como nos propõe Ingold (2015), “a antropologia de volta a vida”.

Palavras-chave: Etnografia. Audiovisual. Memórias. Crianças. Processos de Aprendizagem.

 

SOARES, Dalva Maria

“MUITA RELIGIÃO, SEU MOÇO!”: OS CAMINHOS DE UMA CONGADEIRA

Orientador: Profª. Dra. Sonia W. Maluf

Co-orientador: Profª. Dra. Vânia Z. Cardoso

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta tese tem como fio condutor a trajetória de Pedrina de Lourdes Santos como capitã de congado. Além de capitã, Pedrina é espírita kardecista, realiza reuniões de umbanda em sua casa, faz atendimentos espirituais na cidade de Oliveira e frequenta o candomblé. A capitã também é frequentemente solicitada para falar em seminários, festivais, oficinas e congressos sobre suas experiências e seus conhecimentos. Embora o contexto do universo da pesquisa tenha sido o congado, o trabalho acabou sendo recortado por diversos espaços, tendo em vista a própria característica do sujeito da pesquisa, uma pessoa ecumênica, como ela mesmo se define. Guiada pelos movimentos de Pedrina segui o seu percurso, o que me levou a percorrer diferentes sítios e trajetos numa complexa rede tramada entre confluências de práticas, processos e conexões. Isso me obrigou a sair da lógica de se pensar o religioso a partir de doutrinas, instituições e rituais e a focar na experiência e na vivência de Pedrina. Embora eu tenha ido a campo perseguindo a trajetória de Pedrina, conhecê-la implicou acessar toda uma rede familiar que vai muito além da sua família biológica e envolve uma rede de relações sociais tecidas no reinado, na umbanda, no kardecismo e no candomblé; uma rede que entrelaça a trajetória de Pedrina com seres deste e de outros mundos, como os santos católicos, as entidades da umbanda, os nkisis do candomblé e os espíritos desencarnados do kardecismo. Esta não é, portanto, uma tese sobre o Reinado de Nossa Senhora do Rosário ou congado em Minas Gerais, nem sobre o congado da cidade de Oliveira, muito menos uma biografia de Pedrina. É o resultado de uma relação construída entre pesquisadora e pesquisada durante um determinado período da vida de ambas. O congado na vida de Pedrina é lugar de encruzilhada, de interseção de todas as suas vivências religiosas, não para fundir tudo numa unidade, mas para seguirem enquanto pluralidades, numa lógica que não anula as diferenças. A participação em seminários acadêmicos, encontros, festivais e congressos também permite a Pedrina chamar a atenção de pesquisadores, artistas, políticos, produtores culturais, entre outros, para o lugar das manifestações culturais afrobrasileiras. Nestes encontros, a capitã amplia sua rede e legitima o seu congado. Um congado próprio, particular, resultado dos diferentes trânsitos pelos quais ela circula. O que está grafado nas páginas a seguir se traduz na forma como eu conto a história que me foi contada; não só por Pedrina, mas também pelos sujeitos (desse e de outros mundos) que estão à sua volta.

Palavras-chave: Capitã Pedrina, congado, umbanda, kardecismo, candomblé, etnobiografia, trânsitos religiosos.

 

SOUZA, Adriana Duarte de

SUICÍDIO NA ÁREA URBANA DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA: ESTUDO COM AUTÓPSIAS PSICOSSOCIAIS

Orientador: Prof. Dr. Maximiliano Loiola Ponte de Souza

Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia – UFAM

RESUMO

Objetivo: Analisar os significados atribuídos por indígenas, aos suicídios ocorridos na área urbana de São Gabriel da Cachoeira. Metodologia: Foram selecionados os casos de suicídio ocorridos na área urbana de São Gabriel da Cachoeira no período de 2001 a 2014. Agentes Comunitários de Saúde mediaram o contato com os familiares dos casos selecionados. Aos familiares foi aplicado um roteiro de entrevista semiestruturado chamado Autópsia Psicossocial, por meio do qual foram extraídas narrativas dos familiares sobre o suicídio dos casos selecionados. As entrevistas, realizadas após obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido, foram gravadas e transcritas. Após a transcrição, foi realizada a leitura compreensiva das narrativas para a identificação das categorias empíricas, as narrativas foram então decompostas em recortes de trechos para que fossem identificadas tanto as ideias explícitas, quanto as implícitas presentes no texto. Para finalizar, foi realizada a síntese interpretativa das narrativas, privilegiando os sentidos mais amplos presentes em cada caso, através da articulação entre os objetivos propostos, o referencial teórico e os dados empíricos. A Autópsia Psicossocial foi utilizada de duas maneiras: com a finalidade de reconstruir os discursos proferidos durante as narrativas e como meio de elencar as categorias utilizadas na análise. Resultados: Os suicidas em sua maioria eram jovens do sexo masculino e que não costumavam apresentar comportamento violento. O método preferencial utilizado para cometer o suicídio foi o enforcamento. Identificou-se através das Autópsias Psicossociais que os parentes associaram os suicídios aos conflitos familiares existentes, ao consumo elevado de álcool e outras drogas ou, ainda devido a algum feitiço xamânico, como “sopro” ou “estrago”, motivado pela inveja de uma outra pessoa. Destaca-se ainda a preocupação dos parentes em saber o que ocorreu com o suicida após a sua morte. Conclusão: Os familiares por meio de suas narrativas buscam compreender o suicídio de seus parentes por meio de um complexo sistema de causalidade no qual se articulam conflitos familiares, uso de substancias e feitiços, que em última análise remetem a um contexto relacional. Tal modelo não se prende ao modelo biomédico clássico que tende a associar o suicídio a problemas psiquiátricos ou psicológicos individuais. Ademais a narrativa da morte não termina com a morte em si,preocupações com o post-mortem permeiam as aflições dos familiares. Tais aspectos deveriam ser considerados a se buscar estratégias tanto de prevenção, como de pósvenção ao suicídio.

Palavras-chave: Autópsias Psicossociais; Suicídio; Povos Indígenas

 

STABELINI, Julio César

O SKATE NA PRÁTICA: ETNOGRAFIA VISUAL, HABILIDADES E AFFORDANCES EM UM CIRCUITO URBANO

Orientador: Prof. Dr. Rafael Victorino Devos

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Este trabalho tem como objetivos destacar certas especificidades no tocante às formas de sociabilidade características dos praticantes do skate e sua inserção na paisagem urbana. E, nesse sentido, me interessa investigar/analisar a criatividade e agências por trás dessas práticas e percepções ligadas à uma forma específica de viver/ estar na cidade, de uso e ao mesmo tempo de produção dela.Dentro do recorte de minha pesquisa, a prática do skate revela-se como uma forma de experienciar/vivenciar o espaço urbano – pensado aqui como ambiente – a partir de percepções e habilidades específicas, desenvolvidas na mediação desse objeto entre os sujeitos e o ambiente. A intenção é buscar um diálogo com diferentes campos da Antropologia: a antropologia urbana, a visual e o dos estudos sobre percepção.

Palavras-chave: skate; etnografia visual; habilidades; circuito urbano.

 

ZARPELON, Janiffer Tammy Gusso

DOADOR EMERGENTE DO SUL: COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL PRESTADA PELO BRASIL NA ÁREA DE SAÚDE NO GOVERNO LULA 

Orientador: Profª. Dra. Marcia Grisotti

Doutorado em Sociologia Política – UFSC

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo geral analisar as práticas do Brasil como doador de Cooperação Técnica Internacional (CTI) em saúde aos países em desenvolvimento, buscando averiguar os aspectos que contribuíram para a intensificação e a cristalização do país como doador emergente do Sul. Se o aumento da doação de CTI em saúde passa a ocorrer no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), partimos da premissa de que a expansão destas ações incidiu na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, sendo o foco da presente pesquisa. Dessa maneira, o presente trabalho destaca as diretrizes e as ações do Brasil relacionadas à CTI em saúde aos países em desenvolvimento no governo Lula, procurando identificar as motivações para as decisões relacionados a Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) na área da saúde e assim para o estabelecimento de determinados projetos; os principais países receptores; os atores envolvidos no planejamento dessa agenda; as áreas destes projetos; e quais os projetos que mais se destacaram nessa doação. A principal hipótese que norteou a pesquisa foi que: o protagonismo do Brasil como doador de CTI em saúde no governo Lula não ocorreu apenas pela alteração da estratégia da PEB, mas por diversos fatores, tais como: i) a percepção dos atores envolvidos na formulação da agenda externa brasileira sobre a relevância da área da saúde; ii) a capacidade da expertise brasileira na área da saúde; iii) a conjuntura econômica, tanto no nível doméstico como internacional; iv) o aumento da relevância da saúde no ambiente internacional; v) a percepção no governo Lula acerca do status do Brasil em ser uma potência média, chamada a partir do século XXI, de potência emergente, com capacidade de exercer liderança e autonomia no sistema internacional. A metodologia utilizada neste trabalho teve como base a pesquisa bibliográfica de fontes primárias como documentos oficiais do Brasil e estudos e relatórios realizados pelo governo sobre a CTI brasileira bem como fontes secundárias sobre o objeto de estudo. Constatamos que o Brasil amplia suas ações de CTI prestadas na área da saúde aos países em desenvolvimento no governo Lula por diversas razões. Apesar do discurso brasileiro enfocar que a sua doação de CTI aos países do Sul teve como base a solidariedade, verificamos que a intensificação destas ações foram guiadas também por interesses econômicos e políticos por parte do Brasil.

Palavras-chave: Cooperação Técnica Internacional; Brasil; Saúde; Governo Lula; Capacity Building

 


 

2015

 

Camila Sissa Antunes

LUGARES, REDES E SOCIALIDADES: ESTUDO ETNOGRÁFICO NAS PERIFERIAS DE CHAPECÓ (SC)

Orientador: Profª. Dra. Alicia N. G. de Castells

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise dos lugares, redes e socialidades presentes no cotidiano das moradoras de dois bairros periféricos da cidade de Chapecó-SC, enfatizando suas experiências e narrativas, que constroem cenários de socialidades que envolvem lugares e referências identitárias (de pertencimento ou distanciamento) e outras formas de subjetivação do território, que consolidam relações processuais de construção da periferia. Apresenta resultados da etnografia que se concentrou na região leste do município, principalmente nos bairros São Pedro e Bom Pastor em Chapecó (SC), caracterizando esses lugares a partir das concepções e experiências de seus moradores. Esta região teve sua conformação inicial a partir da remoção de pessoas pobres que viviam precariamente no centro da cidade ou na condição de posseiros em bordas de áreas rurais. Estas famílias foram transferidas compulsoriamente, no início dos anos 60, para o lugar que posteriormente foi denominado bairro São Pedro. Estes fatos evidenciam que desde o início da urbanização de Chapecó foram criadas medidas, nem sempre explícitas, de exclusão dos mais pobres da paisagem das áreas mais centrais da cidade. Contemporaneamente a região leste, conforma uma realidade complexa e interessante do ponto do vista antropológico, fornecendo um campo dinâmico e fértil para refletir sobre os processos de periferização na cidade de Chapecó bem como fornecer índices analíticos mais amplos sobre a periferia e a própria antropologia urbana. As análises teórico-metodológicas são desenvolvidas em torno das ideias de processualidade, experiência e diálogo. Esta perspectiva reflete tanto os resultados analíticos como as escolhas teórico-metodológicas adotadas para o desenvolvimento da pesquisa de campo, que nos permitiram compreender que as periferias podem ser entendidas enquanto processos flutuantes, descontínuos e relacionais, rastreados durante a etnografia e construídas a partir da experiência dialógica, ou seja, levando em consideração aspectos relevantes para as interlocutoras da pesquisa.

Palavras-chave: antropologia urbana, cidade, periferias, pobreza, Chapecó.

 

Dagoberto Bordin

CULTURA TERMAL E PROCESSOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO E TURISMO EM DUAS ESTAÇÕES DE ÁGUAS TERMAIS: Santo Amaro da Imperatriz/Brasil e Nueva Federación/Argentina

Orientador: Profª. Dra. Alicia N. G. de Castells

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

A água termal, desde a antiguidade, é indicada como terapêutica em diversos distúrbios de saúde física e mental. Uma estação de águas termais é sempre oportunidade de encontro com o outro, de marcação de alteridade e, ao mesmo tempo, de identidade. Estas estações de águas termais podem ser vistas como ambiente propício à cura e são ocasião de lazer e relaxamento coletivos, fatores de distinção social e também de reconhecimento de que os espaços que habitamos e pelos quais nos movemos contribuem para a construção das nossas representações identitárias como indivíduos e como coletividades. Esta tese enfoca na Primeira Parte a cultura termal, quando busco entender a teia de significações que envolvem estas práticas de lazer, turismo e saúde. Na Segunda Parte, abordo os processos de patrimonialização e turismo desta cultura termal. Para atingir meu objetivo, estabeleço uma comparação entre duas estâncias de águas termais, uma localizada no sul do Brasil e outra na região nordeste da Argentina, detendo-me no gerenciamento da água termal, que é analisada com relação ao seu aproveitamento turístico, operação que coloca no seu entorno diversos agenciamentos. Ela é um produto à venda no mercado das opções turísticas e também aciona atores no mercado das águas minerais, ou águas de mesa, nos dois casos estudados.

Palavras-chave: spa, cultura termal, turismo termal, banho termal, patrimônio ambiental.

 

Rafael Palermo Buti

A ANTROPOLOGIA EM CONTEXTOS DA POLÍTICA E AÇÃO QUILOMBOLA NO BRASIL MERIDIONAL: DOIS CASOS PARA ESTUDO

Orientador: Profª. Dra. Miriam Furtado Hartung

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

O presente trabalho objetiva um exercício reflexivo e comparativo sobre dois contextos de elaboração de relatórios antropológicos em comunidades quilombolas com vistas a legitimação dos direitos étnicos e territoriais junto ao Estado Brasileiro. Trata-se de tomar como campo de análise o próprio cruzamento entre as políticas estatal, antropológica e grupal a partir de um ponto de vista localizado e demasiadamente implicado ao gesto. Pretendo pensar, através da descrição dos processos de pesquisa, como as principais premissas territorializadas pelo pesquisador a partir dos quadros dispostos para sua realização e pelas redes de mediação que conformam a ação quilombola foram articuladas e reivindicadas pelos códigos próprios da cultura. O que permitirá refletir não somente sobre o que tendeu a caracterizar esse encontro entre diferentes regimes de estabilização e definição de um social no contexto da ação quilombola, mas saber que relações foram ali reivindicadas, marcadas e articuladas, e que sujeitos, territórios e histórias foram ali definidos para sua conformação.

Palavras-chave: Comunidades Quilombolas. Ação Quilombola. Relatórios Antropológicos. Ativismo Étnico. Escravidão. Expropriação Territorial.

 

Sandra Carolina Portela Garcia

CIRCULAÇÃO E PERMANÊNCIA DE INDÍGENAS KAINGANG E GUARANI NA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA: DESAFIANDO AUSÊNCIAS, PARADOXOS E OUTRAS IMAGENS 

Orientador: Profª. Dra. Esther Jean Langdon

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

O eixo que articula a presente pesquisa é a presença indígena na cidade de Florianópolis. Ao partir da descrição etnográfica, o texto propõe a existência de diversas dinâmicas de circulação e permanência que os indígenas Guarani e Kaingang— com os quais tive a possibilidade de me relacionar — apropriam e experimentam a cidade, e como dentro desse contexto criam e recriam constantemente suas identidades e o espaço geográfico que ocupam. Igualmente, defende-se a ideia de que a vida nas áreas urbanas, o uso de tecnologias e outros aspectos que geralmente são citados como incompatíveis com o imaginário de ―índio‖, são, pelo contrário, importantes dispositivos que reafirmam a sua identidade étnica, desafiando abertamente a noção que circula entre o cidadão ―a pé‖, as instituições oficiais e os discursos midiáticos, de que o ―lugar do índio é na aldeia‖ e de que ―índio que mora em cidade não é mais índio‖. Os diferentes discursos sobre o ―índio‖ e sua presença na cidade serão postos à tona ao longo desta tese, pelo fato que sua produção cria ou reproduz uma série de imagens e representações dos indígenas, as quais, em geral, reforçam negativamente a sua existência, fazendo com essas pessoas, consequentemente, fiquem submersas em muitos paradoxos, nos quais, como bem resume Miguel Bartolomé, predomina a ideia de que ―ser índio é uma ofensa, mais não ser índio o suficiente também pode ser uma forma inadequada de ser‖ (2003, p. 19).

Palavras-chave: Indígenas, Florianópolis, Kaingang, Guarani, Cidade.

 

Rosana Sousa de Moraes Sarmento

A ASSISTÊNCIA SOCIAL À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UM ESTUDO NA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS/SC

Orientador: Profª. Dra. Márcia Grisotti

Doutorado em Sociologia Política – UFSC

RESUMO

O debate sobre a população em situação de rua (PSR) está presente no campo de ação das políticas públicas, porém poucas vezes se prioriza conhecer a percepção dessa população sobre os serviços que lhe são prestados e/ou garantidos. Este estudo objetivou compreender a percepção da PSR em Florianópolis acerca dos serviços de assistência social e verificar em que medida estes serviços correspondem ao que está previsto pelo Decreto nº 7.053/2009. Para desvelá-lo, realizou-se pesquisa qualitativa com levantamento bibliográfico acompanhada de pesquisa de campo tanto na rua, quanto nos espaços institucionais. Para critério de seleção da PSR entrevistada, priorizou-se a abordagem de maiores de 18 anos de ambos os sexos, acompanhados ou não pelo serviço municipal Centro de Referência ao seu atendimento, o Centro-Pop. Nos espaços institucionais profissionais dos serviços públicos municipais da assistência social (Centro Pop e Casas de Acolhimento/Abrigos); da saúde (Consultório na Rua e Centro de Atenção Psicossocial-CAPS); do Conselho Municipal de Assistência Social; assim como representantes de organizações não governamentais que atuavam com o atendimento a PSR foram ouvidos. As análises das respostas obtidas foram baseadas em sete categorias conceituais: status, estigma, fenômeno, rualização, pobreza, exclusão social e interdependência. Assim, verificou-se, sob a perspectiva da PSR, que estes não estão recebendo uma proteção social de forma integral; que há necessidade do investimento em ações que fortaleça a intersetorialidade da assistência social com as demais políticas públicas; que é importante valorizar o movimento de organização e participação política deste usuário; que as ações de intervenções com ele não asseguram relações interdependentes reificando a figuração de que indivíduo e sociedade são instâncias separadas. A partir disso, sugeriu-se uma metodologia de intervenção para com a PSR visando à construção de relações mais interdependentes entre eles e a sociedade.

Palavras-chave: população em situação de rua, assistência social, proteção social.

 

Simone Lira Silva

PRÁTICAS DE CONSUMO ENTRE TRABALHADORES COM O LIXO: empoderamento e reprodução das distinções sociais

Orientador: Profª. Dra. Alicia N. G. de Castells

Doutorado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta tese tem por base pesquisas etnográficas realizadas junto a Trabalhadores com o lixo organizados em associações de materiais recicláveis de Palhoça-SC, durante os anos de 2012 e 2013, e também em associações da cidade de Santa Maria-RS, entre os anos de 2005 a 2009. Trata-se de uma análise das formas como Trabalhadores com o lixo usam objetos encontrados no lixo para fins lúdicos, utilitários, artísticos ou de coleções individuais. Analiso as diversas práticas de apropriações de objetos encontrados no lixo por trabalhadores com o lixo, em especial as práticas que destinam estes objetos para o mercado de usados, a produção de artesanatos e a elaboração de coleções. Defendo a tese de que essas práticas de apropriações de objetos encontrados no lixo constituem-se em práticas de consumo que permitem: a) uma mudança estrutural através das micros esferas de empoderamento proporcionadas pelo trabalho com o lixo e b) a sustentação de determinadas estruturas de classificação presente na lógica de consumo da nossa sociedade e visíveis nas formas de distinções sociais.

Palavras-chave: trabalhadores com o lixo, consumo, empoderamento, distinções sociais.

 

Ligia Raquel Rodrigues Soares

“EU SOU O GAVIÃO E PEGUEI A MINHA CAÇA”. O ritual Pep-cahàc Ràmkôkamekra/Canela e seus cantos

Orientador: Profª. Dra. Deise Lucy Oliveira Montardo

Co-orientador: Prof. Dr. Odair Giraldin

Doutorado em Antropologia Social – UFAM

RESUMO

 

André Luis Sales da Costa

SUICÍDIO DE IDOSOS NO MUNICÍPIO DE MANAUS, AMAZONAS 

Orientador: Prof. Dr. Maximiliano Loiola Ponte de Souza

Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia – UFAM

RESUMO

Objetivo: Analisar, mediante articulação de estratégias quantitativas e qualitativas, o fenômeno do suicídio no Amazonas. Metodologia: Foi realizada a articulação de estratégias de pesquisa qualitativa e quantitativa. Na fase quantitativa da pesquisa, realizou-se um estudo epidemiológico descritivo e retrospectivo com o intuito de caracterizar a mortalidade por suicídio de pessoas com 60 anos de idade ou mais no Amazonas entre os anos de 2001 a 2010, a partir do banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASÚS). Na fase qualitativa, casos de suicídios ocorridos no período 2000 a 2012 foram selecionados na Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas. Aos familiares que participaram da pesquisa foi aplicado um roteiro de entrevista chamado Autópsia Psicossocial, extraindo narrativas sobre o suicídio dos idosos. As entrevistas foram gravadas e transcritas mediante o consentimento dos familiares. Por fim, foi realizada a triangulação de ambas as leituras, quantitativa e qualitativa, para que os dados fossem comparados em conjunto e evidenciasse convergências e divergências entre os dois aspectos. Resultados: Os dados quantitativos apresentaram uma baixa taxa de mortalidade por suicídio conforme os critérios internacionais, entretanto, a taxa de mortalidade aumenta como avançar da idade tanto no Amazonas quanto na capital, Manaus. O método preferencial para o ato ainda é o enforcamento, sendo os homens os maiores perpetradores. No que se refere aos dados qualitativos, identificou-se através das Autópsias Psicossociais que os suicídios estavam associados ao surgimento do câncer, “impotência”, a impossibilidade de enxergar, ao uso de álcool e outras drogas, conflitos familiares, além da dependência em relação ao autocuidado. Conclusão: Sugere-se que os futuros estudos quantitativos e qualitativos sobre o suicídio de idosos no Amazonas, possam, além de ampliar os dados epidemiológicos, apresentar também, dados específicos de informações sobre este fenómeno, como: os problemas físicos, mentais, sociais e relacionais. Tal empreendimento, além de ajudar no mapeamento dos fatores de risco, favorecerá a compreensão em profundidade deste fenômeno. Desta forma, o conhecimento construído mediante a articulação de métodos quali-quanti, ajudará no desenvolvimento de ações mais eficazes para a prevenção do suicídio nesta população que vem crescendo no Amazonas.

Palavras-chave: Suicídio; Idosos; Manaus; Autópsias psicossociais; Epidemiologia do suicídio

 

Karen Berenice Denez

PERCEPÇÕES DOS USUÁRIOS DA CLÍNICA PÚBLICA OU PRIVADA SOBRE A HOMEOPATIA E ACESSO AOS MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS

Orientador: Profª. Dra. Eliana Elisabeth Diehl

Mestrado em Assistência Farmacêutica – UFSC

RESUMO

Esta dissertação teve como objetivo principal analisar as percepções de usuários sobre a clínica homeopática no município de Florianópolis, Santa Catarina, bem como levantar os medicamentos homeopáticos aviados em Farmácias Homeopáticas dos municípios de Florianópolis e de Itajaí, Santa Catarina. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagens qualitativa e quantitativa, que, inicialmente, foi desenvolvida junto a quatro farmácias homeopáticas instaladas em Florianópolis e uma em Itajaí, e, num segundo momento, junto a 23 usuários de homeopatia, de clínica pública e privada, de Florianópolis. Os resultados apontam que os medicamentos policrestos são os mais prescritos tanto nas receitas aviadas no Sistema Único de Saúde (SUS) como nas advindas da clínica privada, reforçando a importância de manter esse grupo de medicamentos em estoque na Farmácia. A forma farmacêutica gotas, em doses repetidas foram as mais prescritas assim como a quantidade de 30 e 50 em volume ou massa nos dois municípios. Porém quando se analisa apenas receitas SUS, Florianópolis avia mais formulações complexas. Este estudo ressalta a importância da acessibilidade e do acesso ao medicamento homeopático no município de Florianópolis. Na percepção dos usuários, a maioria mulheres, idade média de 45,4 anos, se diferenciando apenas no grau de escolaridade, não houve diferenças entre os atendimentos da clínica pública ou privada. Os pacientes se sentiram acolhidos e confiantes com os prescritores, pois buscavam a clínica principalmente por desencanto com a alopatia e por um tratamento integral, bem como consideraram o medicamento eficaz.

Palavras-chave: Assistência farmacêutica. Homeopatia. Consulta homeopática. Medicamento homeopático.

 

Blanca Cecilia Gómez Lozano

“FESTIVALIAR, TIGRIAR EGRAVAR” ARTISTAS E SONORIDADES NO PIEDEMONTE DOS LLANOS ORIENTALES DA COLÔMBIA

Orientador:  Profª. Dra. Maria Eugênia Dominguez

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Os Llanos Orientales são uma região da Colômbia que, junto com os Llanos da Venezuela, é conhecida, dentre outras coisas, por ser o “berço” da música llanera. Esta dissertação trata dos processos de construção dos artistas llaneros e das formas em que se legitimam seus trabalhos artísticos. Para isso, descreve-se as trajetórias de alguns artistas, identificando as razões que guiam sua participação nos diferentes contextos de performance da música llanera e quais são as características que distinguem suas atuações. Nas falas dos artistas, a atuação nesses diferentes contextos é referida através de diferentes verbos: festivaliar – para se referir à participação em festivais e concursos; tigriar 1 – para se referir ao trabalho em churrascarias e botecos; e gravar– para se referir não apenas à produção e gravação de discos, mas também ao processo de inserção em cenários internacionais. Compreendo a música llanera como um campo que se organiza hierarquicamente a partir das diferentes posições que ocupam os artistas e as relações que estabelecem entre eles e com outros agentes. Pode-se dizer que, em parte, essas diferentes posições se relacionam com as participações diferenciais nos contextos acima mencionados A partir do trabalho de campo realizado na região do Piedemonte llanero, que incluiu a participação em festivais de música llanera, shows e apresentações, assim como a realização de entrevistas com cantores, instrumentistas, gestores culturais, funcionários públicos do setor cultural e mestres de música, procurei mapear as relações que organizam e legitimam o trabalho artístico no campo da música llanera, bem como descrever o domínio de habilidades sonoras que permitem aos artistas se identificarem como artistas llaneros.

Palavras-chave: música llanera, artistas llaneros, processos de legitimação, campo.

 

 

Dayana Lilian Rosa Miranda

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AGRICULTURA FAMILIAR E A VISÃO DOS SUJEITOS EM DOIS MUNICÍPIOS DO VALE DO RIBEIRA – PARANÁ

Orientador: Prof. Dr. Pedro Martins

Mestrado em Planejamento Social e Desenvolvimento – UDESC

RESUMO

O objetivo desta dissertação foi o de investigar a relação das políticas públicas ligadas à agricultura familiar com o desenvolvimento rural e a manutenção da atividade no Vale do Ribeira Paraná, especificamente nos municípios de Rio Branco do Sul e Itaperuçu. A presente proposta buscou compreender paradigmas que envolvem atualmente a atividade agrícola de pequena escala e a sua sobrevivência frente ao sistema hegemônico instalado para, quiçá, despertar olhares que levarão a repensar práticas e modelos, numa perspectiva de salvaguarda da atividade e dos recursos humanos e naturais envolvidos. A problemática de pesquisa reside na investigação dos efeitos das políticas públicas de apoio, manutenção e desenvolvimento da agricultura familiar na perspectiva da visão dos sujeitos. Os conceitos norteadores que embasaram o referencial teórico da pesquisa foram construídos a partir da Agricultura Familiar, do Desenvolvimento Rural e das Políticas Públicas, tomando como dimensão o conjunto de programas e ações governamentais voltados para realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados ligados à categoria. Aplica-se na pesquisa uma abordagem qualitativa de estudo de caso, com entrevistas semiestruturadas realizadas com agricultores familiares e poder público local. Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de mudança do panorama de desenvolvimento rural adotado desde a criação e legitimidade da categoria da agricultura familiar até os tempos atuais, assim como a imprescindibilidade de aprimoramento e melhoria nas políticas públicas atuais.

 

Ricardo Jardim Neiva

A HANSENÍASE ENQUANTO DOENÇA E REPRESENTAÇÃO SOCIAL NAS MULHERES DO VALE DO JEQUITINHONHA – MG

Orientador: Profª. Dra. Márcia Grisotti

Mestrado em  Sociologia Política – UFSC

RESUMO

Esta dissertação compreende um período histórico único da hanseníase, e objetiva analisá-lo através da história de vida de mulheres exportadoras da doença no Vale do Jequitinhonha-MG. A abordagem permite, através dos relatos e da construção dos parâmetros regionais da doença na cidade de Araçuaí-MG, assimilar padrões de saberes e práticas associadas à doença e vigência do estigma nas relações familiares e sociais. Relações com o diagnóstico, tratamento medicamentoso, autoimagem, religiosidade e cultura popular também foram abordados. As ações decorrentes do diagnóstico da hanseníase e seu impacto na vida cotidiana dessas mulheres são as grandes questões tratadas através deste estudo. Portanto, é um relato sobre representações sociais que ainda envolve o preconceito, um desconhecimento moderado sobre a doença e influência da religiosidade popular.

Palavras-chave: Hanseníase, Representações Sociais, Estigma, Vale do Jequitinhonha.

 

Giully de Oliveira

A ASSOCIAÇÃO DE AGROTURISMO ACOLHIDA NA COLÔNIA E O TURISMO RURAL EM SÃO BONIFÁCIO/SC

Orientador: Prof. Dr.

Mestrado em Planejamento Social e Desenvolvimento – UDESC

RESUMO

A pesquisa aqui proposta tem como objetivo analisar o processo de adesão à Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia – AAAC por algumas propriedades rurais da região de São Bonifácio – SC, observando como este processo pode influenciar na prática de turismo rural na região. A Associação Acolhida na Colônia foi criada, no Brasil, em 1999. É uma associação composta por agricultores, integrada à Rede Accueil Paysan, atuante na França desde 1987. Tem como proposta valorizar o modo de vida no campo através do agroturismo ecológico. A pesquisa visa analisar e refletir de que forma a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia poderá envolver moradores do Município de São Bonifácio – SC que já desenvolvem algum trabalho voltado ao turismo rural ou pretendem desenvolver. Neste contexto, o referencial teórico tem como conceito norteador o turismo rural que surge diante da crise nas atividades agrícolas e vem como alternativa de renda, alternativa de melhoria das condições para as famílias permanecerem no campo e valorização de espaços naturais (proteção), procurando desmistificar a visão de que o campo (rural) serve apenas para atividades agropecuárias e extrativistas. Ainda se tratando de referencial teórico, será abordado, o agroturismo e turismo rural na agricultura familiar – TRAF e identidade cultural. Para obter os resultados traçados pelas questões de pesquisa e objetivos, a pesquisa foi realizada dentro da abordagem qualitativa, a partir de um estudo de caso. A coleta de dados foi feita por meio de técnicas de pesquisa, como: levantamento de dados secundários, pesquisa documental, instrumentos da etnografia, observação participante e entrevistas semiestruturadas. O levantamento de dados secundários e documental foi iniciado primeiramente através de livros, artigos, reportagens e demais elementos que pudessem contribuir nesta etapa. Na sequência foi realizada a atividade de campo. Com a técnica de observação participante auxiliada por instrumentos da etnografia, foi possível coletar boa parte dos dados para produção desta pesquisa. Neste período foram realizadas as entrevistas semiestruturadas com alguns atores sociais envolvidos com turismo rural. Ao fim, esses dados foram organizados e posteriormente analisados. Conclui-se que a AAAC está se consolidando aos poucos no município de São Bonifácio. Os envolvidos projetam um melhor desenvolvimento com o passar do tempo e a comunidade sãobonifacense vê o turismo rural como forma de desenvolvimento local, criando novas formas de renda frente ao potencial: paisagístico, gastronômico e cultural que o município tem. Os associados acreditam nesta nova fonte de renda como um meio de manter ou aproximar os jovens do mundo rural, porém nem todos estão dispostos a esperar o processo de amadurecimento da atividade na região. Outro ponto que ainda é evidente é a necessidade que os associados têm de um acompanhamento de técnicas ou multiplicadoras da atividade. Para que as atividades possam ser desenvolvidas com sucesso, o apoio técnico ainda é necessário.

Palavras-chave: turismo rural, agroturismo, Acolhida na Colônia, São Bonifácio.

 

 

Francisca Souza Santos

ENTRE A LIBERDADE INDIVIDUAL E A SAÚDE PÚBLICA: SABERES, PRÁTICAS E GESTÃO DE CONFLITOS EM CASO DE DESCONTINUIDADE DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE

Orientador: Profª. Dra. Márcia Grisotti

Mestrado em  Sociologia Política – UFSC

RESUMO

A tuberculose, mesmo sendo uma das doenças mais estudadas nos seus aspectos biológico, epidemiológico, diagnóstico, terapêutico e profilático, permanece causando sofrimento humano e morte em pleno século XXI, representando um relevante problema de saúde pública no cenário mundial, pelo expressivo quantitativo anual de adoecimentos. O presente estudo objetivou identificar os conflitos entre liberdade individual e saúde pública relacionados à descontinuidade do tratamento da tuberculose e analisar como eles são percebidos e gerenciados pelos profissionais envolvidos no processo. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo em que foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os contatos dos portadores de tuberculose (que adquiriram ou não a tuberculose por meio de um familiar), bem como, com os profissionais de saúde da Vigilância Epidemiológica e da Estratégia Saúde da Família, envolvidos no Controle da Tuberculose no município de Araçuaí – MG. A análise dos dados evidenciou que os contatos intradomiciliares, não se sentiram ameaçados ao conviver com a pessoa com tuberculose, por considerarem que é uma doença que possui tratamento e cura. No entanto, entre os profissionais e a vizinhança o risco de transmissão é percebido e o temor de contágio é constante, exigindo condutas dos profissionais diante desses casos. Neste sentido são aplicadas pelos profissionais várias estratégias como: busca ativa, o controle de contato, o controle da transmissibilidade do próprio paciente com realização mensal da baciloscopia e o tratamento supervisionado. Essa última é vista como um momento importante para que o profissional de saúde possa empoderar o paciente em relação ao tratamento da tuberculose. No entanto, na prática verifica-se que o tratamento supervisionado retoma a vigilância apurada, retirando a autonomia do indivíduo em decidir sobre seu tratamento, sendo imposto o controle sob a forma de cuidado.

Palavras-chave: Tuberculose; Liberdade; Tratamento; Saúde Pública.

 

Talita Samanta Sene

MODOS DE FERMENTAR, SENTIDOS DE EMBRIAGAR E CONCEPÇÕES DE SER Produção e consumo de caxiris entre senhoras Tukano Oriental de São Gabriel da Cachoeira, Alto Rio Negro

Orientador: Prof. Dr.Jeremy Paul Jean Loup Deturche

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta dissertação tem como tema as concepções de algumas pessoas de etnias da família linguística Tukano Oriental acerca de uma diversidade de tipos e modalidades de bebidas fermentadas que se reúnem sobre o rótulo “caxiri” – o que convenciono caxiris. Meu objetivo aqui é descrever e analisar o que estas pessoas classificam como mudanças e continuidades nos modos de produzir e consumir tais fermentados, em especial quando se deslocam de suas comunidades para viver na cidade. Para tal, parto de um contexto contemporâneo de produção e consumo de tais bebidas: a venda em duas associações indígenas da cidade de São Gabriel da Cachoeira: a Associação Cultural dos Agricultores Indígenas Direto da Roça e a Associação Mista dos Povos Indígenas. Através destas, circulo entre “passado” e “presente”, humanos e não-humanos, feminino e masculino, mundos dos brancos e dos índios, comunidades, sítios e cidade, ritual/festa e cotidiano, alimento e antialimento, dádivas e mercadorias, “criminalização”/proibição e defesa de bens culturais (i)materiais. Mostro como o assunto está fermentando (entre) esta gente da transformação.

Palavras-chave: Bebidas fermentadas indígenas; caxiri; Tukano Oriental; Alto Rio Negro.

 

Adilson Tadeu Basquerote Silva

ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES AGROECOLÓGICOS: GÊNERO, MIGRAÇÃO E DESAFIOS DA SUCESSÃO 

Orientador: Profª. Dra. Glaucia de Oliveira Assis

Mestrado em Planejamento Social e Desenvolvimento – UDESC

RESUMO

A presente pesquisa objetivou analisar os processos de transformação na agricultura familiar de um contexto de produção convencional para uma produção de base agroecológica, procurando identificar, compreender e descrever os impactos que esses processos têm causado nas relações familiares e de gênero. O espaço empírico analisado foi a Associação de Produtores Agroecológicos Semente do Futuro (APASF) localizada em Atalanta (SC). Os conceitos norteadores utilizados como referencial teórico abrangem a construção histórica da agricultura familiar e as relações de gênero, geração e reprodução social nela estabelecidos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter etnográfico cujos dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e observação participante. Estes dados advieram de quatro famílias agricultoras de base agroecológica pertencentes à APASF, totalizando 11 componentes entrevistados e acompanhados no período de abril de 2013 a dezembro de 2014. Para a análise de dados utilizou-se os procedimentos da análise do discurso, a qual evidenciou que nestas famílias, no que concerne às relações familiares e de gênero, houve significativo avanço na medida em que as mulheres agricultoras passaram a questionar o seu lugar na família, na propriedade e na vida social, constituindo-se como novos sujeitos políticos, sociais e familiares. Neste sentido seu trabalho alcançou visibilidade, elas passaram a atuar também na esfera pública, na geração de renda e na gestão das propriedades e da APASF. Contatou-se que a agroecologia continua sendo fonte importante de renda e de saúde e de promoção de qualidade de vida para as famílias. No entanto, o espaço da APASF não se mostra como um lugar de oportunidades para os jovens que visualizam outros projetos de vida fora do contexto rural. Ademais, ainda existem descompassos entre produção e reprodução na APASF e nas propriedades, as famílias ainda permanecem com visão patriarcal e enfrentam problemas com a certificação das propriedades e com a reprodução social.

Palavras-chave: Agricultura – Santa Catarina; Agricultura familiar;  Ecologia agrícola;  Trabalho e família;  Relações de gênero

 

Maria Felisbino Silveira

DE QUEM É O RIBEIRÃO? IMAGEM, PAISAGEM E IDENTIDADE EM CONTEXTOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO

Orientador: Profª. Dra. Alicia Norma González de Castells

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

O bairro do Ribeirão da Ilha, localizado em Florianópolis/SC, foi um dos primeiros povoamentos portugueses da cidade. Esta localidade guarda consigo um conjunto de patrimônios culturais que são pensados como atrativos, oferecidos pelas instâncias governamentais e privadas ligadas ao turismo, para quem procura conhecer e vivenciar os aspectos particulares do lugar. Entendemos que o turismo na localidade tem oportunizado uma série de ações que culminam num iminente processo de objetificação, exatamente, dos seus bens considerados patrimoniais.Esta objetificação pode ser percebida, por um lado, em relação à prática da maricultura, que não só é cultivada, mas também objeto de consumo, através de circuitos de bares e restaurantes. Por outro lado, há identificação da apropriação do discurso local quando referido ao patrimônio cultural. Entre as estratégias, temos a da mídia voltada para os turistas, que usa as representações e imagens do patrimônio local como pano de fundo de suas ações. Nas imagens que circulam sobre a localidade, se percebem indícios de uma objetificação cultural, principalmente através de discursos que naturalizam e inserem a prática da maricultura na localidade.

Palavras-chave: identidade cultural, paisagem cultural, turismo e patrimonialização.

 

Gabriela Prado Siqueira

PESSOAS, SABERES E PLANTAS MEDICINAIS: ACOMPANHANDO INICIATIVAS EM FLORIANÓPOLIS

Orientador: Profª. Dra. Esther Jean Langdon

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Este trabalho parte da descrição de algumas atividades desenvolvidas em quatros espaços em Florianópolis, duas pastorais da saúde da igreja católica e dois grupos de estudo em plantas medicinais e fitoterápicos, e de como pessoas, plantas e saberes transitam entre esses espaços e produzem conexões. Cada um dos pontos produzidos a partir desses encontros se mostrou o evento que impulsiona mudanças nas atividades cotidianas dos grupos, nas suas concepções de saúde, doença/enfermidade, cura e natureza. Os valores compartilhados através desses espaços, as plantas e os interesses em seu estudo e manipulação, além de figuras centrais de cada lugar apresentado aqui, foram atores que possibilitaram diferentes diálogos entre setores da medicina profissional, familiar e popular, e entre esses espaços e iniciativas do Sistema Único de Saúde (SUS) de Florianópolis. Esses diálogos apontaram limitações e possibilidades desse sistema, e flexibilizaram as fronteiras entre esses setores.

Palavras-chave: Fitoterapia; Plantas Medicinais; Sistema Único de Saúde (SUS)

 

Marcela Maria Soares da Silva

“ISTO NÃO É UMA PRAÇA”: Teatralidade entre os desníveis e ruínas da Nova Praça Roosevelt

Orientador: Prof. Dr. Scott Correll Head

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

No presente trabalho procuro acompanhar a relação dialética que se estabelece entre práticas teatrais e espaço urbano na Praça Roosevelt, no centro da cidade de São Paulo. O espaço, que passou ao longo de sua história por vários projetos de intervenção urbanística, tendo sido o último concluído em 2012, possui uma intensa vida teatral, abrigando diversos grupos de teatro, muitos dos quais estiveram e estão ativamente engajados a tal espaço urbano. A etnografia procura acompanhar processos transformativos que são gerados através do encontro entre as práticas teatrais e o espaço urbano, e que conferem à Roosevelt a marca de sua teatralidade mesmo para além dos palcos. Levando em conta a própria espacialidade quebradiça e desnivelada da Roosevelt, procuro pensar etnograficamente com o espaço, em práticas teatrais que resistem aos projetos de planificação empreendidos por intervenções urbanísticas e fazem emergir de seus desníveis, ruínas, que são ativados de maneira produtiva, junto a performances e memórias.

Palavras-chave: Praça Roosevelt; teatralidade; intervenção urbanística; São Paulo

 

 

Natalia Pérez Torres

O LUGAR DO GRAFFITI NO CENTRO DA BOGOTÁ CONTEMPORÂNEA

Orientador: Profª. Dra. Alicia Norma González de Castells

Mestrado em Antropologia Social – UFSC

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo compreender o lugar do graffiti no centro da cidade contemporânea. Partindo do pressuposto de que se trata de um fenômeno urbano em permanente transformação e que, ao mesmo tempo, é uma prática cultural coletiva sujeita a diversas formas de conflitos entre os atores que transitam pelos centros urbanos, se discute o graffiti como uma prática chave para pensar as configurações espaciais existentes no cotidiano das cidades. Enquanto uma das manifestações da cidade contemporânea, o graffiti é por sua vez uma possibilidade de leitura e de análise do urbano que permite tratar e problematizar aspectos relativos ao lugar dos sujeitos nas urbes, às formas de apropriação dos espaços públicos, à construção da paisagem urbana e à criação de dispositivos políticos funcionais à invenção de uma imagem de cidade, entre outros. Para o estudo desses aspectos citados foram analisados os graffitis na cidade de Bogotá, Colômbia, assumindo-os por sua vez como uma prática atravessada por diferentes tensões procedentes de esferas políticas, institucionais, culturais e sociais que remetem em parte à dialética local-global. Se bem que não seja um fenômeno novo nessa cidade, as peculiaridades que apresenta hoje o situam entre duas posições em tensão: como uma linguagem visual aceita e reconhecida em diferentes esferas, mas no conflito de se manter como uma prática política, ou seja, como outra forma de posicionamento e de contestação de uma realidade social particular.

Palavras-chave: graffiti, centros urbanos, cidade contemporânea, Bogotá

 

 


Kamila Guimarães Schneider

“A REVOLUÇÃO ESTÁ NO PRATO”: DO GLOBAL AO LOCAL NO MOVIMENTO SLOW FOOD

Orientadora: Profa. Dra. Carmen Silvia Rial

RESUMO

A presente dissertação consiste em um estudo etnográfico juntamente com participantes de um movimento social internacional chamado Slow Food, com o objetivo de vivenciar, descrever e analisar os tipos de redes de interação social que se apresentam no Movimento. Primeiramente irei realizar uma contextualização histórica e estrutural do movimento, assim ver como os participantes do movimento internacional se adaptam para fazer parte do Slow Food e como criam uma base ao incentivo de uma cadeia curta de produção e consumo de alimentos e comidas locais e regionais. Meu percurso etnográfico inicia-se com os grupos locais do movimento que se localizam em Florianópolis – SC, partindo para as interações estabelecidas nas regiões do Estado de Santa Catarina, na região Sul do Brasil, chegando a suas redes nacionais e as questões internacionais e globais. A metodologia aplicada ao trabalho foi a etnografia multisituada, por meio da observação participante e uma imersão de um ano e meio de contatos cotidianos. Para isso frequentei reuniões, encontros e eventos que o movimento apoiou ou ofereceu. Participei destes eventos tanto pessoalmente como por intermédio virtual. Tive como mediadores do campo meios audiovisuais, em que documentei alguns dos eventos. Para conseguir atingir o objetivo proposto busco no estilo de vida dos participantes do Movimento Slow Food cinco eixos mais comentados e discutidos pelos participantes: educação, ecogastronomia, risco, prazer e tempo.

Palavras chave: Slow food, rede, alimentação, globalização.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0379-D.pdf


Francine Pereira Rebelo

KUNHANGUE MBA’E KUA: AS TRAJETÓRIAS DAS MULHERES CACICAS GUARANI MBYA DE SANTA CATARINA

Orientadora: Profa. Dra. Edviges Marta Ioris

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo compreender quais os elementos permitiram que recentemente entre os Guarani Mbya emergissem lideranças políticas femininas, as chamadas cacicas. O estudo reflete sobre as implicações da atuação destas mulheres no cotidiano das comunidades nas quais estão inseridas, atentando principalmente ao contexto de lutas pela regulamentação de terras indígenas em Santa Catarina. A pesquisa foi feita através do acompanhamento de duas cacicas, Arminda Ribeiro (Para Poty) e Eunice Antunes (Kerexu Yxapyry), residentes respectivamente nas aldeias da Conquista (Jatay ty), localizada em Balneário Barra do Sul, e do Morro dos Cavalos (Itaty), localizada em Palhoça, ambos municípios do litoral de Santa Catarina. Através das trajetórias, depoimentos e entrevistas com as cacicas e outros/as indígenas Guarani Mbya, foi possível traçar um perfil destas lideranças e elucidar quais fatores possibilitaram o aparecimento dessas figuras como representantes políticas, assim como suas atuações e desafios no cenário político constituído pelas aldeias Guarani Mbya e sociedade envolvente. No que se refere aos aportes teóricos utilizados para compreensão da temática das cacicas Guarani Mbya, é necessário destacar que as teorias sobre mulheres indígenas enfrentam um impasse teórico marcado pela necessidade de junção de estudos sobre populações indígenas – os quais muitas vezes não levam em consideração as contribuições das mulheres indígenas e naturalizam ou negligenciam as representações de gênero dentro dos grupos indígenas– e dos estudos de gênero – que ao refletir sobre “mulheres”, muitas vezes as apresentam através de uma abordagem etnocêntrica e universalista, da qual as mulheres indígenas não fazem parte. Deste modo, para compreensão da problemática, foi necessário abordar a categoria gênero de forma que esta dialogasse com outras identidades discursivamente construídas, como raça, classe e etnia.

Palavras chave: Guarani Mbya, Mulheres indígenas, Liderança política, Cacicas.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0375-D.pdf


Ana Maria Antunes Machado

“LUTAMU”: RELAÇÕES INTERÉTNICAS E PROTAGONISMO FEMININO NO PAPIU NO CONTEXTO DE UM CONFLITO INTERCOMUNITÁRIO YANOMAMI

Orientador: Prof. Dr. José Antônio Kelly Luciani

RESUMO

Esta pesquisa é uma etnografia realizada entre o grupo yanomami do Papiu ao longo do ano de 2014, e tem como fio condutor a descrição e análise de um conflito intercomunitário, em curso de o final de 2013, entre este grupo e os Yanomami da região de Hayau. Ao fazer um relato etnográfico de parte deste conflito, buscarei explorar dois temas principais, que se somam como novos elementos dentro da longa discussão sobre a guerra yanomami: em primeiro lugar, irei descrever e analisar a forma como os Yanomami têm reinventado o sistema de agressão yanomami a partir de novos elementos advindos da relação interétnica com os não indígenas. Em segundo lugar, irei descrever as diferentes formas e espaços de atuação das mulheres yanomami como agentes nos conflitos intercomunitários.

Palavras chave: Yanomami, guerra, relações de gênero, relações interétnicas.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0374-D.pdf


Beatrice Corrêa de Oliveira Gonçalves

O ENSOPADO QUE ALIMENTA, IDENTIFICA E DÁ NOME AO MORRO DO MOCOTÓ – FLORIANÓPOLIS, SC.

Orientadora: Profa. Dra. Carmen Silvia de Moraes Rial

RESUMO

Nesta pesquisa, proponho-me a repensar a cidade em que vivo, Florianópolis, a partir de uma perspectiva diferente. Não sou de Florianópolis, mas vivo na cidade há mais de 10 anos e moro em um prédio no Centro da cidade. Escolhi como perspectiva a de moradores de um dos primeiros morros a ser ocupados em Florianópolis, o do Morro do Mocotó, que faz parte do Maciço do Morro da Cruz. Além de levantar dados históricos sobre a ocupação do Morro, escolhi como campo privilegiado de estudo a alimentação, porque a partir dela é possível estudar os sistemas de classificação e os processos de distinção entre eu e o outro, em que a alteridade se constrói também a partir do que se come. O nome do Morro faz referência à comida de mocotó, que é um caldo feito a partir do osso do boi e que leva, em sua composição, outras carnes e arroz. A localidade se tornou conhecida por esse nome, porque na época da construção da ponte Hercílio Luz (1922 a 1926) os operários costumavam subir o Morro para comprar os pratos de mocotó. Mais do que alimentar, o prato também identifica os moradores no sentido de que eles se reconhecem através do mocotó, prato de baixo custo feito a partir do osso do boi, dobradinha e arroz. Além disso, é por saber cozinhar que muitos moradores conseguem se inserir no mercado de trabalho, muitos deles são cozinheiros em restaurantes, escolas ou mesmo cozinham para fora para vender salgadinhos e marmitas.

Palavras chave: Florianópolis; alimentação; mocotó; táticas; estratégias.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0378-D.pdf


Anai Graciela Vera Britos

CONVIVENDO NA TERRA DE ÑANE RAM ÑANE RAMÖIJUSU PAPA JUSU PAPA: UMA ETNOGRAFIA DAS RELAÇÕES ENTRE OS PAÏ TAVYTERÄ E OS ANIMAIS

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos.

RESUMO

Considerando as contribuições recentes que destacam as interações – materiais e simbólicas – entre os seres humanos e os animais (e outros não-humanos) como forma privilegiada para entender o social a partir de margens e sentidos ampliados, o presente trabalho teve como objetivo elaborar uma etnografia sobre as relações dos indígenas com os animais na vida cotidiana. A pesquisa teve como foco o povo Paï Tavyterä, sendo desenvolvida na aldeia Ita Guasu, no distrito de Pedro Juan Caballero, departamento de Amambay, Paraguai. Através das descrições das mitologias e das práticas cotidianas, a pesquisa faz uma tentativa de compreender o sistema e significados culturais Paï Tavyterä nos quais as interações seres humanos e animais estão inseridas, buscando observar as relações de diferentes atores – pessoas e animais – e descrever esses delicados fios que formam tais emaranhadas teias. É possível constatar que uma abordagem que separe ontologicamente a natureza e a cultura dificulta a compreensão destas relações, posto que a configuração hierárquica do cosmo faz com que cada ser que o habita tenha suas próprias características, intenções e estratégias para conviver, agir e alcançar seus objetivos.

Palavras chave: humanos e não-humanos; animais domésticos; Paï Tavyterä; natureza e cultura.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0371-D.pdf


Fabiana Stringini Severo

PARA UMA ETNOGRAFIA DA MÚSICA ELETROACÚSTICA: entre sons e máquinas em laboratórios de música.

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos.

Coorientadora: Prof.ª Dr.ª María Eugenia Domínguez.

RESUMO

Este trabalho trata dos resultados de uma etnografia realizada durante no ano de 2014 na cidade de São Paulo com três grupos ligados à pesquisa musical em departamentos de música das seguintes instituições de ensino superior: FASM, USP e UNESP. Esses grupos têm em comum o fato de trabalharem, com maior ou menor proximidade, com a chamada música eletroacústica, um tipo de música ligada à pesquisa e à academia no Brasil. Diferencia-se da música eletrônica dançante ou da cultura de música eletrônica de DJs, podendo ser também chamada de música eletrônica erudita. O trabalho etnográfico baseou-se em algumas premissas da Teoria do Ator-Rede (ANT) e na noção de etnografia da música de Seeger. Além disso, também são apresentadas algumas considerações sobre a relação entre música e máquinas/tecnologia, bem como a produção, a circulação e a recepção de música eletroacústica no contexto da pesquisa. Faço, ainda, apontamentos sobre as experiências sociais e perceptivas/sensoriais do concerto de música acusmática.

Palavras chave: música eletroacústica; música e tecnologia; etnografia da música erudita; música contemporânea.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0364-D.pdf


Lays Cruz Conceição

VIVÊNCIAS DE ESCRITAS ENTRE OS LAKLÃNÕ/XOKLENG

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Evelyn Martina Schuler Zea.

RESUMO

Esta dissertação trata dos diferentes usos de escritas entre os Laklãnõ/Xokleng. A partir de pesquisa bibliográfica, em campo e contínuos contatos com pesquisadores indígenas e não-indígenas foram se delineando os caminhos percorridos pelas coisas escritas em diferentes suportes. Ao longo da dissertação são abordadas questões em torno das histórias de contato nativa e de pesquisadores, a autodenominação do grupo, as escritas em diferentes suportes como o corpo (marcas corporais), audiovisual (produção pelos indígenas de um filme) e textos. O contexto em que cada um desses diferentes suportes é escolhido para inscrever uma história depende da situação, do que se deseja contar e registrar e para quem esta inscrição se dirige. O que se cria neste movimento são lugares de pensamento sempre passíveis de serem transformadores e transformados.

Palavras chave: Laklãnõ/Xokleng; escritas; suportes; pesquisadores indígenas; história.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0354-D.pdf


Felippe Cardozo Ciacco

LOUCURA E DISPERSÃO: UMA ETNOGRAFIA ENTRE ESCRITAS AUTOBIOGRÁFICAS

Orientador: Prof. Dr. Scott Correll Head

RESUMO

Este trabalho procura se fazer como uma etnografia junto a dois textos autobiográficos, Hospício é Deus, de Maura Lopes Can- çado e Todos os Cachorros são azuis, de Rodrigo de Souza Leão. Tais textos carregam a passagem de ambos os autores por experiência de internamento psiquiátrico que incidem em suas narrativa, não apenas como parte de seu enredo e cená- rio, mas na formação de uma enunciação “hospiciada”, a todo instante desautorizada pelo aparecimento de outros interlocutores e pela justaposição de outras biografias, pré-fabricadas. Diante das ambiguidades de tal enunciação, o presente trabalho trata de seguir os processos de autobiografização engendrados pelos autores, processos frágeis, a todo momento ameaçados pelas totalizações desses outros interlocutores, processos, no entanto, dispersivos e que resistem a tais totalizações.

Palavras chave: loucura; autobiografia; hospício; dispersão.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0356-D.pdf


Marcela Maria Soares da Silva

“ISTO NÃO É UMA PRAÇA”: TEATRALIDADE ENTRE OS DESNÍVEIS E RUÍNAS DA NOVA PRAÇA ROOSEVELT

Orientador: Prof. Dr. Scott Correll Head

RESUMO

No presente trabalho procuro acompanhar a relação dialética que se estabelece entre práticas teatrais e espaço urbano na Praça Roosevelt, no centro da cidade de São Paulo. O espaço, que passou ao longo de sua história por vários projetos de intervenção urbanística, tendo sido o último concluído em 2012, possui uma intensa vida teatral, abrigando diversos grupos de teatro, muitos dos quais estiveram e estão ativamente engajados a tal espaço urbano. A etnografia procura acompanhar processos transformativos que são gerados através do encontro entre as práticas teatrais e o espaço urbano, e que conferem à Roosevelt a marca de sua teatralidade mesmo para além dos palcos. Levando em conta a própria espacialidade quebradiça e desnivelada da Roosevelt, procuro pensar etnograficamente com o espaço, em práticas teatrais que resistem aos projetos de planificação empreendidos por intervenções urbanísticas e fazem emergir de seus desníveis, ruínas, que são ativados de maneira produtiva, junto a performances e memórias.

Palavras chave: Praça Roosevelt; teatralidade; intervenção urbanística; São Paulo.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0357-D.pdf


Mariela Felisbino da Silveira

DE QUEM É O RIBEIRÃO? IMAGEM, PAISAGEM E IDENTIDADE EM CONTEXTOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO.

Orientadora : Profa. Dra. Alicia Norma González de Castells

RESUMO

O bairro do Ribeirão da Ilha, localizado em Florianópolis/SC, foi um dos primeiros povoamentos portugueses da cidade. Esta localidade guarda consigo um conjunto de patrimônios culturais que são pensados como atrativos, oferecidos pelas instâncias governamentais e privadas ligadas ao turismo, para quem procura conhecer e vivenciar os aspectos particulares do lugar. Entendemos que o turismo na localidade tem oportunizado uma série de ações que culminam num iminente processo de objetificação, exatamente, dos seus bens considerados patrimoniais.Esta objetificação pode ser percebida, por um lado, em relação à prática da maricultura, que não só é cultivada, mas também objeto de consumo, através de circuitos de bares e restaurantes. Por outro lado, há identificação da apropriação do discurso local quando referido ao patrimônio cultural. Entre as estratégias, temos a da mídia voltada para os turistas, que usa as representações e imagens do patrimônio local como pano de fundo de suas ações. Nas imagens que circulam sobre a localidade, se percebem indícios de uma objetificação cultural, principalmente através de discursos que naturalizam e inserem a prática da maricultura na localidade.

Palavras chave: identidade cultural, paisagem cultural, turismo e patrimonialização.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0367-D.pdf


Paulo da Costa Pereira Neto

GRINGOS, HIPPIES E CONQUISTADORES EM SAMAIPATA, BOLÍVIA: A FAMA E A INFÂMIA DOS FORASTEIROS.

Orientadora : Profa. Dra. Alicia Norma González de Castells

RESUMO

A crescente presença de forasteiros em Samaipata, uma pequena cidade boliviana próxima a Santa Cruz de la Sierra, faz com que, com grande frequência, o substantivo “gringo” seja usado para se referir a pessoas, bem como a locução adjetiva “de gringos” venha colada com certas coisas (festas de gringos, lugares de gringos, manias de gringos…). No entanto, as duas formas de uso se revelavam muito mais plásticas do que poderiam parecer à primeira vista: mesmo quando gringo era visto como “alguém de fora”, identificar esse alguém e estabelecer o que se está se considerando como o local (Samaipata, as terras baixas, a Bolívia, a América Latina) dependiam muito mais das circunstâncias em jogo do que de qualquer forma de definição enciclopédica. Mas isso não implicava que a noção de gringo fosse, tão simplesmente, uma concepção subjetiva, que não dependesse da circulação de ideias e do compartilhamento de certas experiências dentro da cidade. Mais do que isso, havia uma certa “má-fama” bem disseminada – embora não absolutamente disseminada – que se refletia em algumas práticas instituídas pelo poder local para tentar minar os “abusos” cometidos pelos forasteiros na cidade – fossem eles turistas ou moradores estabelecidos. O objetivo de minha dissertação foi tentar entender o que fazia com que esse rótulo se tornasse tão disseminado e a razão que levava a categoria “gringo” a ser tão frequentemente associada a formas de subversão dos hábitos locais.

Palavras chave: Relação Estabelecidos/Outsiders, Migração Internacional, Turismo, Bolívia, Samaipata, Fuerte.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0359-D.pdf


Fernando Augusto Groh de Castro Moura

DA FALTA DE ATENÇÃO AO DÉFICIT DE ATENÇÃO: DIAGNÓSTICO E MEDICALIZAÇÃO DE ESTUDANTES NA PERSPECTIVA DE PROFESSORES E PROFESSORAS DE ESCOLA PÚBLICA

Orientadora : Profa. Dra. Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Na presente pesquisa, tomei por objeto de análise antropológica o processo de construção do diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a medicalização de estudantes. Investiguei esse processo etnograficamente, o que significou um exercício de relativização em relação ao TDAH enquanto uma “doença” dada de antemão: não procurei sintomas, tampouco evidências biológicas para provar se ele existe ou não. Procurei analisar a forma pela qual alguns elementos são investidos de uma possibilidade patológica que eventualmente culmina em um TDAH, pesquisando, descrevendo e discutindo a forma pela qual uma característica torna-se um sintoma no universo escolar, como a “atenção”. Para explorar esse processo, professores e professoras de um colégio público foram meus sujeitos de pesquisa. Por cerca de quatro meses, além de acompanhar em torno de duzentas aulas de onze docentes, estive presente em diversas reuniões de professores e professoras, bem como realizei uma série de entrevistas e conversas informais com eles e elas, com orientadores educacionais e com a supervisora educacional do colégio no qual realizei meu trabalho de campo. O argumento central de minha discussão é que a “atenção” é investida de uma possibilidade patológica em um movimento através do qual variadas formas de “governo” se articulam no campo educacional e, mais especificamente, na instituição escolar. Em um regime contemporâneo no qual a medicina se apropria de um extenso campo de possibilidades, na medida em que os “governos” escolares não funcionam, a medicalização entra em cena. Em primeiro lugar, ao nível semântico, produzindo mecanismos de verdade através do qual a “falta” de “atenção” torna-se uma possibilidade patológica e vira um “déficit” de “atenção” e, em segundo lugar e por consequência disso, ao nível químico, produzindo potenciais estudantes consumidores de metilfenidato.

Palavras chave: Medicalização. Diagnóstico. TDAH. Educação. Escola. Governamentalidade.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0362-D.pdf


Rudemar Brizolla de Quadros

EXPECTATIVAS E RELAÇÕES: UM ESTUDO SOBRE RESIDENCIAIS ASSISTIDOS PARA IDOSOS EM FLORIANÓPOLIS-SC

Orientador: Prof. Dr. Alberto Groisman.

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo refletir a respeito das relações e interações entre residentes, familiares, cuidadores e dirigentes dentro dos Residenciais Assistidos para Idosos (RAIs) em Florianópolis, SC. Os dados foram coletados por meio de pesquisa de campo, entre março e junho de 2013, em quatro RAIs de Florianópolis. A pesquisa permitiu refletir sobre as relações das pessoas que convivem e interage nos RAIs, compreender as expectativas dessas pessoas sobre os RAIs e detectar os espaços de agência possíveis. Também se analisou a construção dos sujeitos idosos e as subjetividades presentes no processo do envelhecimento e tentou-se mapear a influência do paradigma biomédico sobre as práticas de cuidado desenvolvidas pelos RAIs.

Palavras chave: Residenciais Assistidos para Idosos. Envelhecimento. Cuidado. Etnografia.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0363-D.pdf


Vinícius Teixeira Pinto

SONS DO SUL Performances e poéticas do rap em Porto Alegre

Orientadora: Prof.ª Dr.ª María Eugenia Domínguez.

RESUMO

Partindo das contribuições de debates originados em torno da Antropologia da música, esta etnografia procura apresentar como o rap e alguns conceitos relativos a ele atualizam-se em diferentes performances musicais. Para tanto, amparou-se em pesquisa de campo, realizada em Porto Alegre e região metropolitana, durante a primeira metade do ano de 2014. Os esforços que este texto faz objetivam reportar as experiências de diálogo com alguns músicos locais, com o intuito de recriar as festas, os shows e demais momentos relativos à audição de músicas do gênero em questão. Os eventos escolhidos para as descrições detalhadas foram: duelos de rima, rodas de improviso, shows, gravações de cds e gravações de videoclipes. Todos eles foram abordados como atos comunicativos nos quais prevalece a função poética. A relevância deste tipo de proposta se dá ao considerar a música enquanto uma obra aberta, no sentido dado por Eco, isto é, algo que é construído entre um emissor e, ao mesmo tempo, um receptor. Assim, as músicas não podem existir de modo atemporal, mas apenas quando atualizadas em performances. Portanto, buscou-se relatar estas experiências musicais com a maior riqueza de detalhes possíveis, considerando o pesquisador também um participante destes eventos. Concomitantemente, discute-se os conceitos elaborados por músicos e apreciadores do gênero musical para classificar tais performances. A respeito deste ponto, foi percebida uma distinção – crucial para os artistas – entre músicas improvisadas e músicas memorizadas. Neste sentido, o texto procura salientar as expectativas que cada categoria de eventos proporciona aos performers, abordando as variedades de linguagens (verbal, musical, visual, etc.) e temas nas músicas. Além disso, discute-se com atenção especial o modo como a categoria “rap gaúcho” é usada para definir músicas do hip hop feitas em Porto Alegre. Finalmente, esta etnografia procura oferecer contribuições para analisar as poéticas do hip hop, chamando atenção para sua característica geral enquanto poesia oral, mas, também apontando de que maneira outras sensorialidades – além da auditiva – são fundamentais para construção destas narrativas musicais.

Palavras chave: 1. Hip hop 2. Rap 3. Antropologia da música 4. Performance 5. Oralidade

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0369-D.pdf


Ana Carolina Rocha

CERCAMENTOS AMBIENTAIS: MODOS DE USO DOS RECURSOS E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO ESTADO DO PARANÁ

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Edviges Marta Ioris.

RESUMO

A criação e implementação de reservas de proteção ambiental têm gerado conflitos sociais em diversos locais do Brasil e do mundo. Esta dissertação discute a emergência destes conflitos na comunidade rural de Batuva, litoral norte do estado do Paraná, Brasil, em decorrência da criação e implementação da Área de Preservação Ambiental de Guaraqueçaba (APA de Guaraqueçaba) e da legislação subsequente, que proibiu acesso a recursos florestais que tradicionalmente a comunidade explorava para sua sobrevivência. Para tanto, foram realizados estudos na comunidade de Batuva sobre suas formas de uso dos recursos, manejo da terra e modos de vida, demonstrando como seus moradores habitam Batuva, como vivenciaram e reagiram aos conflitos que se instauram a partir da APA. Nesse sentido, o estudo argumenta que a criação da APA de Guaraqueçaba, congregada a uma rígida proibitiva legislação ambiental, configurou-se em um cercamento ambiental, conceito que desenvolvo a partir de Thompson (1987, 1998), e sua discussão sobre os conflitos gerados pela instalação dos cercamentos (enclousure) na Inglaterra do século XVIII. Em Guaraqueçaba, os “cercamentos ambientais” se estabeleceram a partir da década de 1980, quando tem início o processo de criação e implementação de reservas de proteção ambiental na região e a rigorosa legislação ambiental. As áreas convertidas em reservas passam a ficar sobre a tutela e controle do estado, que passa a reger, proibir, criminalizar e fiscalizar o uso e acesso a essas áreas, desencadeando conflitos sociais com as populações locais, que sempre acessaram e fizeram uso dos recursos florestais para a manutenção de suas subsistências e práticas culturais.

Palavras chave: Batuva. APA de Guaraqueçaba. Conflitos sociais. Cercamentos ambientais.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0368-D.pdf


Denize Refatti

OS SONHOS E OS CAMINHOS DO NHE’E: UMA ETNOGRAFIA DA EXPERIÊNCIA ONÍRICA COMO FONTE DE CONHECIMENTO ENTRE OS AVA-GUARANI DE OCOY

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Antonella Maria Imperatriz Tassinari.

RESUMO

Esta dissertação tem como mote principal, descrever as relações existentes entre os sonhos e os Ava-guarani da aldeia indígena Ocoy, em São Miguel do Iguaçu – Paraná, onde permaneci durante quatro meses para a realização da pesquisa de campo. Parto do princípio de que os sonhos são compreendidos, vivenciados e interpretados de diferentes maneiras relacionadas aos contextos sócio-culturais, portanto, busco compreender como os Ava-guarani classificam os sonhos, os contextos de narrativa e interpretação, a relação dos sonhos com a nominação das crianças, a importância dos sonhos para a produção adequada das pessoas, os conhecimentos infantis sobre o sonho e a relação dos sonhos com a formação e com as atividades xamânicas. Considero que os sonhos são experiências coletivas que envolvem um conjunto de atividades, e possibilitam o acesso a um plano cosmológico que orienta a vida cotidiana e por isso, lanço mão da expressão “universo onírico”, no intuito de contemplar todos os elementos que se relacionam aos sonhos, ou seja: predisposições, técnicas corporais, significações, interpretações, reconhecimentos, religiosidade, os modos de ser e sua importância na produção da pessoa Ava-guarani. Deste modo, este estudo se debruça sobre toda a experiência do sonhar para essa população, buscando compreender o contexto em que é produzido, onde é compartilhado e interpretado, e principalmente como a experiência onírica pode ser entendia enquanto fonte de conhecimento, uma vez que a atividade de sonhar para os guarani é algo que se aprende e se ensina, ou seja, a experiência onírica é também um processo importante de transmissão de saberes.

Palavras chave: Ava-guarani, sonhos, conhecimento, alma.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0370-D.pdf


Mariana Palmieri Brandão Alba

AYURVEDA NO BRASIL: Trajetórias e (re)invenções

Orientador: Prof. Dr. Alberto Groisman

RESUMO

Este trabalho levanta e analisa aspectos que avalio serem centrais de como o Ayurveda, conhecimento considerado originário da ―Índia Antiga‖, se constitui e se articula no Brasil, a partir dos agenciamentos e das trajetórias de pessoas que de uma forma ou de outra se consideram vinculadas ao Ayurveda. Através da análise dos dados apresento como vão se formando redes e quais os temas relevantes que envolvem as trajetórias individuais e coletivas. Pretendo apresentar, além da experiência etnográfica com meus interlocutores e da minha trajetória empírica nesse contexto, como tem se dado a constituição e consolidação da presença do Ayurveda no Brasil considerando as (re)invenções e seus processos de transformação, agência e subjetivação.

 Palavras chave: Ayurveda, trajetórias de vida, corpo, agencia, redes, políticas públicas e saúde.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0366-D.pdf

2014

Felipe Neis Araujo

“TRODDING OUT OF BABYLON”: LINGUAGEM, PESSOA E FORMAS DE TRADUÇÃO RASTAFARI

Orientadora: Profa. Dra. Evelyn Martina Schuler Zea

RESUMO

Trata-se, nesta dissertação, de seguir algumas formas através das quais Rastafaris traduzem em suas narrativas, seus corpos e seus conceitos as suas experiências, suas expectativas, sua história, seus conflitos e dissensos. Os Rastas acusam o colonizador branco europeu de ter alterado a história do Criador, Jah, e do Homem, afim de tentar subjugar o Homem Negro, a criatura original. Uma das principais formas de promover estas alterações, dizem os Rastas, se dá através da edição e da tradução dos textos bíblicos. Não é apenas a tradução de um idioma para o outro que concorre para a alteração das narrativas sagradas: as formas de vivenciar as narrativas – de tornar a palavra em carne – também são traduções, e através delas a Babilônia – o dominador – falsifica as prescrições do Criador. Na tentativa de tentar subjugar o Homem Negro a Babilônia também criou um idioma, criou conceitos e fabricou narrativas. Os Rastas, entretanto, atentaram para as armadilhas do idioma inglês, a language of the master, e desenvolveram métodos para escrutiná-lo. Afim de se diferenciar da Babilônia os Rastas também vêm fabricando uma linguagem para si, um idioma com conceitos que procuram ser positivos. Para além das narrativas e de um idioma, os Rastas também procuram se diferenciar fisicamente da Babilônia, cultivando seus corpos de acordo com prescrições sagradas que traduzem da Bíblia. Algo que se destaca nos corpos Rastafari e nas narrativas nativas que tratam dele é a positivação da negritude e da africanidade. O corpo Rasta conecta a negritude à africanidade e ao Criador; a alimentação às relações sociais e históricas; os dreadlocks às prescrições bíblicas; a cannabis à saúde, à noção de I – um conceito importante que remete ao elo entre a pessoa rastafari e Deus – e à sabedoria. Tanto o idioma corporal quanto o idioma verbal dos Rastafari são instrumentos acionados pelos irmãos e irmãs no processo de deslocamento da Babilônia em direção a Sião, deslocamento que se dá tanto no plano físico quanto no plano intelectual.

Palavras chave: Rastafari; Linguagem; Pessoa; Formas de tradução na- tivas

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0337-D.pdf


Ana Carolina Ribeiro Nogueira

REDES DE PRODUÇÃO MUSICAL COLABORATIVAS: NOTAS ETNOGRÁFICAS EM FLORIANÓPOLIS E NA CASA FORA DO EIXO – SÃO PAULO

Orientadora: Profa. Dra. María Eugenia Domínguez

RESUMO

Apresento nesta dissertação uma série de análises feitas a partir de uma pesquisa etnográfica que realizei durante o ano de 2013 com coletivos de produção musical de Florianópolis, SC, e com participantes da rede Fora do Eixo moradores da Casa FdE em São Paulo, SP. Fizeram parte da investigação músicos, produtores e gestores culturais, artistas plásticos, artistas visuais, audiovisuais e de outras áreas, que desenvolvem projetos de diferentes gêneros musicais. O objeto analisado é a produção colaborativa e alguns dos aspectos que fundamentam e garantem a sobrevivência destas redes, tais como, a influência do local para a formação dos coletivos, os tipos de sociabilidades praticados pelos integrantes, as suas relações com as novas tecnologias de produção digital e com a internet, e com as políticas culturais.

Palavras chave: Produção Musical. Políticas Culturais. Colaborativismo. Ciberespaço.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0336-D.pdf


Marcel Schmitz Gutiá

FACES DO SÃO JOÃO: RELAÇÕES SOCIAIS E A CONSTRUÇÃO DE UMA FESTA EM IPUPIARA – SERTÃO DA BAHIA

Orientadora: Prof. Dra. Vânia Zikán Cardoso

RESUMO

Quando o comércio e a escola param, as casas, as ruas e as pessoas se enfeitam em homenagem ao santo, certamente algo no cotidiano daquele espaço se modifica. No nordeste brasileiro, aonde a festa toma conta de parte dos calendários de algumas cidades, não seria difícil delimitar um campo de pesquisa, mas quando ―o santo‖ constrói a maior festa da cidade essa particularidade se torna um importante motivador para uma pesquisa. Este trabalho se volta para esta festa, a festa de São João, na cidade de Ipupiara, sertão da Bahia. Reisados, fogueiras, quadrilhas, forró e bandeirolas, histórias e personagens aparecem e, ao mesmo tempo em que saem do cotidiano habitual, as pessoas transformam a festa no seu cotidiano diferenciado e construído. Este trabalho tem por objetivo identificar as funções e significados envolvidos na construção desta festa, atentando para as narrativas e performances dos vários personagens que participam, de maneiras distintas, da realização de uma festa que afeta a cidade como um todo.

Palavras-chave: festa, São João, política, religião Ipupiara

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0335-D.pdf


Jaqueline de Mendonça Oliveira

CAMINHOS QUE LEVAM À ROMARIA

Orientadora: Prof. Dra. Vânia Zikán Cardoso

RESUMO

O presente trabalho trata das romarias que acontecem no sertão baiano, especificamente, no sudoeste do Estado, na cidade de Maracás. As perspectivas dos chefes de romaria – importantes figuras na realização das mesmas – constituíram o foco central. Por meio de suas estórias, buscou-se o entendimento das práticas e motivos que levam os romeiros a peregrinar, ao mesmo tempo que entendemos como os chefes de romaria se constroem enquanto tal. O trabalho também aborda as perspectivas dos romeiros que não são chefes de romaria, principalmente no último capítulo, no qual pode-se notar a diversidade de motivações alegadas pelos romeiros para sair em romaria todos os anos. Os motivos apresentados são apenas exemplificativos e não exaustivos, são exemplos destes: pagar promessa, socializar, curiosidade, dever, tradição, conhecimento etc. Muitas dessas motivações já foram abordadas em trabalhos anteriores, mas de forma diferente. Enquanto que, muitas vezes, algumas práticas da romaria são tratadas enquanto seculares, no sentido que estão fora do âmbito do sagrado, aqui optou-se por tratá-las integralmente enquanto inerentes à religiosidade. Tendo em vista a auto-atribuição dos interlocutores do campo etnográfico, a presente pesquisa propõe uma alternativa para se entender a romaria enquano fenômeno multisemântico, multifacetado em constante transformação, ainda que baseado no que se nomeia por tradição, já que um não exclui o outro.

Palavras-chave: Chefe de romaria. Romaria. Religiosidade. Sertão baiano.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0338-D.pdf


Franco Delatorre

‘TRABALHAR NO SANTO’: ETNOGRAFIA DAS PRÁTICAS MEDIÚNICAS DE UM COLETIVO RELIGIOSO ‘DE MATRIZ AFRICANA’.

Orientadora: Profª Drª Vânia Zikán Cardoso.

Resumo

Esta dissertação é uma etnografia das práticas mediúnicas de um pequeno grupo religioso praticante de almas e angola – religiosidade afro-brasileira bastante difundida na Grande Florianópolis. O trabalho – maneira pela qual chamam suas práticas – desse coletivo (formado por médiuns, orixás e outros entes espirituais) ultrapassa o espaço dos terreiros e os rituais formalmente demarcados, adentrando o cotidiano dos médiuns de incorporação, ogãs e cambones. O tema principal da dissertação é a relação entre o ‘povo de cá’ e ‘o povo de lá’, e o objetivo é demonstrar que o mundo, ou tudo que nele existe, é trabalhável por esses sujeitos – incluindo, então, os sujeitos eles mesmos. A tarefa dos médiuns, de trabalharem a si mesmos com o intuito de evoluir espiritualmente, está predicada em uma noção de pessoa não-acabada e constituída, desde já – ‘desde nascença’, como dizem – por vários outros sujeitos. Nas (des-/re-)combinações da coletividade espiritual constitucional da subjetividade de cada um, os/as médiuns empreendem conhecer o(s) outro(s) que nele/a habita(m), na busca de (re-)conhecerem e trabalharem o que denominam de eu. A dissertação persegue o trabalhar no santo descrevendo suas operações e mantendo um diálogo com outras etnografias, dando ênfase aos (parcos) trabalhos acadêmicos sobre almas e angola; o transe, os rituais, as mediunidades, as pessoas do povo-de-santo e as concepções em torno do sujeito médium são, assim, questões presentes neste trabalho.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0343-D.pdf


Harold Wilson González Jiménez

DE ARTICULAÇÕES E CONFLITOS: PRÁTICAS DE AUTOATENÇÃO ENTRE OS MORADORES DE TIMBÍO, CAUCA, COLÔMBIA

Orientadora: Dra. Esther Jean M. Langdon

Coorientadora: Dra. Marcia Grisotti

RESUMO

A presente dissertação procura identificar, descrever e analisar as práticas de autoatenção entre os grupos familiares moradores da área urbana do município de Timbío (Colômbia), com a intenção não só de visualizar a multiplicidade deformas de atenção que ali coexistem, mas também de reconhecer as relações e os mecanismos de articulação e de confronto que se estabelecem nesse processo, conforme o modo que as pessoas e/ou os conjuntos sociais fazem uso delas. Igualmente, este exercício estimula reflexões que nos permitem sugerir aspectos a serem levados em consideração para o desenvolvimento dos planos de saúde locais da região, assim como estratégias que respondam, de maneira mais adequada, às expectativas da população sobre o atendimento da saúde.

Palavras-chave: autoatenção; redes; pluralismo médico; intermedicalidade.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0355-D.pdf


Alberto Samuel Bys

Tempos e saúde na União do Vegetal (UDV).

Orientador: Prof.. Dr. Alberto Groisman

RESUMO

Este trabalho é uma apresentação de reflexões e experiências de uma trajetória de pesquisa em ambos os campos (religioso e acadêmico), que possui como núcleo a análise das categorias, marcações e funções do “tempo” nas práticas e rituais da União do Vegetal (UDV), procurando conhecer e compreender as formas particulares que assume a relação ritual-saúde nesse contexto. A UDV é uma das religiões de origem brasileira que utiliza ayahuasca, substância psicoativa que é chamada hoasca ou vegetal. A descrição dos estados de consciência não-ordinários induzidos pela utilização de psicoativos muitas vezes faz referência a percepções alternativas do espaço, do transcorrer do tempo, de fenômenos inusitados e místicos. Estas percepções podem ser compartilhadas por todo um coletivo. Entre outras conseqüências, a cura ou alívio de doenças físicas ou psíquicas podem também acontecer como resultado das práticas sociais que utilizam estas substâncias. Examinei as questões numa trajetória de pesquisa particular e heterodoxa, na qual fui construindo uma abordagem qualitativa. Principalmente, fiz trabalho de campo no Núcleo Estrela d´Alva (Florianópolis) nos anos de 2005-2006, ainda que conheci distintos locais do grupo, antes e depois, em diferentes lugares do país. Realizo uma abordagem metodológica próxima à etnografia estrategicamente situada, produto não totalmente voluntário deste percorrido de campo. Nos conteúdos argumentais, utilizo “tempos” no plural procurando manter a multi-dimensionalidade e certa indeterminação analítica no conceito, diferenciando assim das particulares apropriações disciplinares e significações (filosóficas, físicas, químicas, sociais, culturais) do “tempo”. Também, esboço reflexões que apontam à emergência, na UDV, de uma percepção cosmológica evolutiva e Universal. A saúde, nesse contexto, parece ser simultaneamente, um resultado do comportamento pessoal seguindo as normas morais do grupo e um bem precioso que precisa ser cuidado.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0344-D.pdf


Gabriella Silva de Souza

Ao som do Ijexá: Afirmação Política e Expressão Religiosa nos Afoxés de Olinda e Recife – PE

Orientadora: Profa. Dra. Maria Eugenia Dominguez

RESUMO

Como uma expressão da cultura negra em Pernambuco, o Afoxé se constituiu como uma manifestação cultural onde se intercruzam os campos artísticos, político e religioso. Fundamenta-se nas religiões de matriz africana de culto aos Orixás, e utiliza seus elementos artísticos, tais como a música, a dança e a estética para produzir desdobramentos políticos e sociais. Em Pernambuco, essa manifestação cultural surge como uma aliada política dos militantes negros locais. Portanto, tendo como foco as práticas do Afoxé em Recife e Olinda, nesta pesquisa pretende-se refletir – nas dinâmicas atuais – os processos de construções e expressões identitárias e os sentidos atribuídos à cultura negra em Pernambuco. As reflexões acerca das noções de cultura negra ou práticas culturais negras na diáspora são abordagens que norteiam o presente trabalho, uma vez que evidenciam os processos de ressignificações desenvolvidos pelos praticantes do Afoxé, as suas organizações e mobilizações em meio às práticas religiosas.

Palavras chave: Afoxé. Cultura Negra. Religiões Afrobrasileiras. Organizações Negras. Diáspora Africana.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0352-D.pdf

2013

Caroline Soares De Almeida

“BOAS DE BOLA”: Um estudo sobre o ser jogadora de futebol no Esporte Clube Radar durante a década de 1980.

Orientadora: Profª. Dra. Carmen Silvia Rial.

RESUMO

O futebol, como prática esportiva, permaneceu quase que totalmente na esfera masculina até 1979, quando foi revogada a proibição imposta às mulheres logo no início da ditadura militar. Já na década seguinte, clubes de futebol de mulheres pipocaram de por todo país, entre eles, o Esporte Clube Radar fundado em 1981 no Rio de Janeiro. Com sede no bairro de Copacabana, o Radar representou durante a década de 1980 o principal clube do país: foi hexacampeão da Taça Brasil de Futebol Feminino, campeão do Torneio Brasileiro de Clubes em 1989, além de representar a Seleção Brasileira no mesmo ano em Campeonato Mundial. Esta dissertação tem como objetivo compreender, através de uma pesquisa etnográfica direcionada a essas jogadoras de futebol, como era ser futebolista na época. A partir da construção histórica de proibições desse esporte e do espaço de sociabilidade dado a tal modalidade feminina, procurarei identificar questões como: identidade de grupo; imagem criada em torno dessas atletas; perspectivas dentro do esporte; perspectivas sociais e financeiras, entre outras. Tais categorias são permeadas por estigmas que podem ser observados ainda hoje quando nos deparamos tanto com a memória social quanto com a realidade dessa classe de atletas na atualidade. Tendo em vista todas essas observações, concluo que ser jogadora de futebol na década de 1980 no Brasil representou muito mais que a luta pela consolidação do esporte, mas uma luta pela resistência das mulheres às normas paternalistas existentes no país.

Expressões-chave: a) Esporte Clube Radar b) Futebol de Mulheres c) Antropologia do Esporte d) Gênero e História.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0313-D.pdf


Brisa Catão Totti

Os Yanomami, a Hutukara e os desafios de seu pacto político

Orientador: Prof. Dr. Márnio  Teixeira‐Pinto

Co‐orientador:  Prof.  Dr.  José  Antônio  Kelly

RESUMO

O tema geral dessa dissertação é a experiência de criação e funcionamento da Hutukara Associação Yanomami. Em linhas gerais, sua pergunta guia é a seguinte: o que acontece quando um povo em particular adota uma instituição estrangeira? Para responder a esta pergunta, recupero as trajetórias de vida dos representantes políticos, aspectos gerais ligados aos exercícios de liderança e mediação, bem como acontecimentos envolvidos em reuniões promovidas pela Hutukara em aldeias yanomami. Analiso este fenômeno recente do contato a partir de formas culturais e políticas bem anteriores a ele.

Palavras chave: associações indígenas; Amazônia; Yanomami; política indígena

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0315-D.pdf


Rocío E. Barreto Paucar

Circulações wachiperi entre as terras altas e baixas e os dilemas de território e propriedade na Amazônia peruana

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Evelyn Schuler Zea

RESUMO

Esta dissertação busca descrever as circulações territoriais dos Wachiperi, povo indígena pertencente à família linguística Harakbut, e o panorama complexo das relações entre diferentes atores indígenas e não indígenas em torno da figura da conservação. Considerando que as relações sócio-politicas no território wachiperi ultrapassam o plano local, circulações territoriais, intercâmbios entre terras altas e baixas, guerras e alianças são retomadas a partir de referencias históricas e etnográficas e complementadas com dados da pesquisa. Apresenta-se o debate e os argumentos com os quais a questão do território se coloca novamente em primeiro plano na política indígena. Finalmente, coloca-se a figura da propriedade indígena wachiperi e os desafios de pensá-la no contexto atual, marcado pelas indeterminações da política peruana em relação ao território indígena.

Palavras-chave: Wachiperi, circulações territoriais, conservação, terras altas e terras baixas, propriedade indígena.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0317-D.pdf


Leticia Grala Dias

O Poder na e da voz delas: benzedeiras da ilha de Florianópolis/SC.

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos

Coorientadora: Profa. Dra. María Eugênia Dominguez

RESUMO

Esta dissertação apresenta um estudo junto a duas benzedeiras da Ilha de Florianópolis. Quatro caminhos, que se interligam, conduziram o seu desenvolvimento. O primeiro deles refere-se à abordagem das benzeduras enquanto gênero de fala segundo pressupostos de Bakhtin (1986) para os gêneros de discurso. O segundo, destaca a poética da performance das benzeduras (BAUMAN, 2009). A terceira perspectiva trata da benzedura enquanto prática manifestadora de um poder feminino e por último são abordados os encontros da prática da benzedura com a bruxaria e a feitiçaria.

Palavras-chave: Benzedura, Benzedeiras, Florianópolis, gêneros de fala.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0316-D.pdf


Gabriel Luis Rosa

A VIDA NAS RUAS E AS FORMAS DE SOCIABILIDADE ESTUDO ETNOGRÁFICO DAS RESSIGNIFICAÇÕES DO ESPAÇO URBANO DE FLORIANÓPOLIS (SC)

Orientador: Prof. Dr. Rafael Victorino Devos

RESUMO

O espaço da cidade é constituído não apenas por sua estrutura física, mas também pela infinidade de relações sociais que ali se estabelecem e se organizam em relação com a própria paisagem urbana. Os moradores de rua constituem parte de uma complexa rede de sociabilidades que se desenvolve nestes ambientes, aproveitando-se da constituição de lugares marcados por formas de sociabilidade específicas para obter recursos diversos ou escapar de estratégias que se esforçam no sentido de retirá-los dos locais que habitam. Este trabalho se concentra nas sociabilidades que se estabelecem no espaço público (especialmente o noturno) de Florianópolis, discutindo a maneira que os moradores de rua ressignificam os próprios espaços inabitados da cidade de maneira criativa, e também contradizendo uma visão que coloca tais indivíduos numa realidade “à ” u .

Palavras Chave: Moradores de rua; Sociabilidade urbana; Usos do espaço público; Antropologia urbana.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0318-D.pdf


Tania Larisa Solar López

MORTE PELA PRÓPRIA MÃO: ESTUDO ETNOGRÁFICO DE NARRATIVAS DOS MAPUCHE PEWENCHE DO ALTO BÍO BÍO, NO CHILE, SOBRE SUICÍDIOS ACONTECIDOS NAS COMUNIDADES

Orientadora: Profa. Dra. Jean Langdon

RESUMO

As mortes pela própria mão, ou “suicídio”, no interior das comunidades de Alto Bío Bío, no Chile, tiveram um aumento alarmante nos últimos dez anos. Este trabalho visa compreender através das narrativas das próprias pessoas Mapuche Pewenche qual é a significação atribuída a essas mortes. A dinâmica do trabalho de campo ao longo de cinco meses permitiu, sobretudo, conviver com pessoas Pewenche que tinham familiares mortos nos últimos dez anos por “suicídio”. De suas narrativas emerge um mundo polissêmico, onde não cabe uma concepção monolítica dos “suicídios”, que para surpresa da pesquisadora resultam num tema que se abre na memória, fluindo sem subterfúgios, emergindo múltiplo e tendo como pano de fundo a concepção da morte. A morte é o tema de entrada e saída, para compreender as mortes pela própria mão acontecidas nas comunidades. Enquanto uma viagem para kamapu (outra terra), a morte é nosso destino nessa terra e é abordada com a naturalidade da vida. Assim o campo mostrou que, seja qual for sua causa, a morte não é um tema tabu para os Pewenche. Também, demonstrou que os “suicídios” não podem ser atribuídos exclusivamente a uma causa individual. A partir dos relatos enquanto narrativas emerge um mundo de sentidos, relatos hiper-realistas aparecem como um contraste frente à resistência geral de falar desse tema na chamada “cultura ocidental”. Nos relatos, em seu sentido performativo, emerge um sentido novo, que organiza a experiência e permite dar uma compreensão inserida na cosmovisão dos Pewenche. Porém, as mortes acontecidas nos últimos anos reorientaram o sentido da vida de pelo menos uma parte já fragmentada dos Pewenche do Alto Bío Bío, especialmente nas comunidades que foram afetadas diretamente pelas represas construídas nos últimos anos. As machi ou xamãs, por sua vez, fizeram com que os Pewenche se olhassem e atendessem à voz dos espíritos que falam sobre as forças negativas que estão ganhando espaço e que provocam a desarticulação comunitária. As mortes são vistas como uma expressão do desequilíbrio, mas também por tratar-se de mortes inesperadas, segundo os xamãs. Elas falam de uma necessidade de reconstruir o território no sentido cosmopolítico, ou seja, abrem um espaço para se pensar como um povo imerso em um contexto de globalização, com suas diferenças, num sentido político amplo, territorial, espiritual, ritual e social. A partir da concepção da morte dos Pewenche, a pesquisa de campo permite refletir e questionar a dimensão da morte na complexidade de olhares da(s) antropologia(s). O campo é um mergulho exploratório que abre um horizonte de trabalho rico e que ainda não foi suficientemente abordado pela antropologia. Só existem aproximações do campo da biomedicina, sob o risco de reduzir o fenômeno ao domínio do individual e o psíquico.

Palavras Chave: Pewenche, narrativas, morte e “suicídios”.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0319-D.pdf


Ana Paula Casagrande Cichowicz

“JESUS ERA UM BOM CIGANO!”: as histórias bíblicas rom kalderash e a interface entre a romanicidade e o evangelismo.

Orientadora: Profa. Dra. Vânia Zikán Cardoso

RESUMO

O movimento de evangelização dos romas na Argentina iniciou-se ainda na década de 1970 e hoje, quarenta anos depois, o evangelismo está profundamente difundido entre os kalderash. De todo modo, o evangelismo romani não se configura como um simples efeito do encontro de práticas distintas – as evangélicas e as romanis -, um produto resultado da soma de dimensões culturais diferentes, mas antes como uma prática que subverte tanto o evangelismo, quanto à própria romanicidade. Um locus interessante para se pensar o encontro entre estes saberes e práticas são as histórias bíblicas. Nas histórias bíblicas, contadas pelos kalderash nos mais diversos momentos do dia-a-dia, se fala de passagens narradas na Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, mas nelas são inseridos personagens romanis e seus feitos romanicizados. Através destas histórias, os roms não simplesmente ordenam e organizam dimensões culturais opostas – a evangélica e a romani -, mas onde, por meio desse contar, os kalderash acabam por criar um espaço outro, estruturante, onde ambas as dimensões são subvertidas, se renovam e ganham novos contornos. Destarte, o objetivo deste trabalho foi pensar acerca da relacionalidade estabelecida entre o gênero narrativo das histórias bíblicas, as tradições romanis e o evangelismo, no modo como elas se entrecruzam, na teia formada neste interlaçar de falas, de gestos, de práticas, que é continuamente tecida a cada história que é contada.

Palavras-chaves: Rom Kalderash, gêneros narrativos, romanicidade, evangelismo, Buenos Aires

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0311-D.pdf


Nádia Dos Santos Aguiar

GOD GAVE ROCK AND ROLL TO YOU: UMA MÃO NA GUITARRA E A OUTRA NA BÍBLIA. UMA ETNOGRAFIA DOS “ROQUEIROS DE CRISTO”.

Orientador: Dr. Scott Correll Head

RESUMO

Esta é uma etnografia sobre os “Roqueiros de Cristo” nas cidades de Ilhéus e Itabuna, na Bahia, tendo como principal enfoque a análise das trajetórias dos sujeitos da pesquisa na construção de uma identidade musico-religiosa. Dialogando com construções identitárias, os “Roqueiros de Cristo” elaboram o gênero musical rock enquanto um mecanismo relacional das construções e práticas cristãs. Tanto os ensaios como as apresentações das bandas são problematizados aqui como espaços imbuídos por outras temáticas como a percepção do prazer a partir da música e da religião.

Expressões-chave: Roqueiros de Cristo, construção identitária, liminaridade, interfaces fluídas.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0321-D.pdf


Nádia Philippsen Fürbringer

COLEÇÕES ETNOGRÁFICAS: OBJETOS, FOTOGRAFIAS E REGISTROS DE CAMPO. NOVAS ARTICULAÇÕES E RESSIGNIFICAÇÕES

Orientador: Prof. Dr. Rafael Victorino Devos

RESUMO

Retomo o lugar das pesquisas antropológicas acerca de coleções etnográficas. Ainda que haja uma lacuna nas pesquisas em museus e/ou com coleções, a prática de colecionismo na Antropologia permaneceu em todos esses anos. A análise parte das coleções do antropólogo Sílvio Coelho dos Santos, que em decorrência de sua profissão de antropólogo colecionou objetos indígenas que foram doados ao Museu de Arqueologia e Etnologia (Marque) ligado a Universidade Federal de Santa Catarina e compõe o acervo de Etnologia Indígena. Soma-se a esse conjunto, centenas de diapositivos e Diários de Campo que foram acumulados em décadas de pesquisa. Ocorre que essas coleções estão em processo de reapropriações, as novas articulações tem ressignificado tais objetos e o próprio sistema museal. Meu campo parte da observação dessas reapropriações: o processo da exposição de curadoria compartilhada de longa duração (curadoria que integra técnicos do Museu e indígenas); e o interesse de grupos indígenas, que são os alunos da Licenciatura Indígena da UFSC (Kaingang, Xokleng e Guarani) em conhecer essas diversas coleções. Além também da constituição de uma galeria virtual de imagens produzidas em contextos de pesquisa etnográfica do Professor Silvio Coelho dos Santos, como estratégia de comunicação e documentação de acervos museológicos, através do processo de compartilhamento de imagens em ambientes virtuais, em exposições museográficas e em oficinas de extensão universitária. Primeiramente com a contribuição dos Tikuna e em seguida dos Xokleng (Licenciatura Intercultural Indígena/UFSC) na construção das informações sobre estas imagens. São diversos sujeitos que contribuem na construção das memórias que contornam tanto o próprio Silvio Coelhos dos Santos e seus interlocutores em outrora, quanto o que o seu olhar enfocou em tantas imagens e descrições de seus diários de campo. Narrativas que emergem a partir da vida dos objetos e documentos que fazem parte de coleções etnográficas, novas vozes que contam outras histórias.

Palavras chave: Coleções etnográficas, objetos, imagens, narrativas.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0325-D.pdf


Adriana Ines Strappazzon

PELOS CAMINHOS DE MANIVAS E MULHERES: CONHECIMENTO, TRANSFORMAÇÃO E CIRCULAÇÃOO NO ALTO RIO NEGRO

Orientador: Prof. Dr. Marnio TeixeiraPinto

Coorientador: Prof. Dr. Jose Antonio Kelly Luciani

RESUMO

O padrao de exogamia lingu ˜ ´ıstica e virilocalidade dos grupos Tukano do Alto Rio Negro, Noroeste Amazonico, faz reunir nas aldeias mulheres de ˆ diferentes localidades e etnias. No encontro destas mulheres, encontramse nao somente diferentes l ˜ ´ınguas, mas saberes e especies de plantas. Esta ´ dissertac¸ao percorre por pr ˜ aticas de conhecimentos femininos das roc¸as e da ´ transformac¸ao da mandioca brava em alimento e caxiri, buscando apresentar ˜ alguns desdobramentos: as relac¸oes entre os g ˜ eneros, envolvendo a noc¸ ˆ ao de ˜ complementariedade das esferas de saber e poder; os momentos e processos de aprendizagem desses conhecimentos; as potencialidades transformativas que figuram no genero feminino e que se realizam pelas roc¸as, ˆ uteros e ca- ´ noas de caxiri. Finalmente, a circulac¸ao de mulheres, manivas e saberes entre ˜ aldeias, que desenham uma ideia de horizontalidade num ambiente marcado pela hierarquia entre os clas e grupos exog ˜ amicos e que fazem das roc¸as e ˆ manivas, imagens de permanencia e mem ˆ orias dos grupos. ´

Palavras-chave: Mulheres Tukano. Alto Rio Negro. Conhecimentos femininos

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0329-D.pdf


Júlia Machado Souza

O FIM DO ANTROPOCENTRISMO? PROPOSTAS PARA REPENSAR O NÃO HUMANO A PARTIR DE MILITÂNCIAS EM DEFESA DOS ANIMAIS NA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS – SC

Orientador: Prof. Dr. Márnio TeixeiraPinto

Coorientadora: Profª. Drª. Evelyn Schuler Zea

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo apresentar e refletir sobre formas de militâncias que propõem que alteremos nossa maneira de lidar com os animais não humanos, questionando, dessa forma, o antropocentrismo. Para tanto, elucido e discuto as trajetórias que levaram meus interlocutores a militar pelos animais e a produção de teorias e conceitos que se formam através das relações entre os ativistas nos contextos da minha pesquisa de campo, em Florianópolis. Refletir antropologicamente sobre nossas relações com os animais é uma, das diversas possibilidades de repensar esse mundo em crise. Perceber os animais não humanos enquanto sujeitos morais sugere que repensemos nossa forma de viver e ampliemos nossa percepção em relação à espécies que antes não estavam na “pauta do dia”. Esse trabalho é fruto de uma pesquisa com pessoas que pensam e militam justamente em relação a essa transformação: devemos, segundo eles, rever nossa forma de pensar a natureza, em especial os animais. Aproximando-nos de espécies distintas das nossas, levando em consideração os animais enquanto sujeitos morais, estaremos, dizem, trabalhando para que o mundo das próximas gerações seja um mundo mais justo, não antropocêntrico, pois terá como centro de preocupações todos os seres sencientes e não apenas o ser humano.

Palavras Chave: causa animal; relações interespecíficas; veganismo; senciência

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0331-D.pdf


Eduardo Hector Ferraro

TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS NO GAUCHISMO ATRAVÉS DA MÚSICA

Orientadora: Profa. Dra. Maria Eugenia Dominguez

RESUMO

Esta pesquisa apresenta resultados sobre as transformações no contexto do gauchismo brasileiro, analisado como um movimento cultural e social. Importantes transformações podem ser associadas às tendências para sua formalização, como a criação do Partenon Literário (1868), a do Grêmio Gaúcho (1898), a do 35 Centro de Tradições Gaúchas (1948) e a realização do XII Congresso Tradicionalista de Tramandaí (1966), onde se configurou o Movimento Tradicionalista Gaúcho como instituição pública e organismo regulador da tradição. A partir de 1971, com a realização do festival Califórnia da Canção Nativa, a música se institui um campo de disputas entre tendências inovadoras e tradicionalistas, e nas últimas quatro décadas assume um papel central no movimento, constituindo-se numa linguagem que agencia transformações nos discursos e na ordem cultural do gauchismo. Descreverei as transformações no movimento através de uma análise da literatura e da bibliografia, como também das entrevistas e conversas com músicos, poetas e compositores, artistas que participam em eventos de música regional gaúcha.

Palavras-chave: Transformações. Gauchismo. Música.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0332-D.pdf


Diogo Virgilio Teixeira

INTEGRALIDADE, INTERAGÊCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: UMA ETNOGRAFIA DA NATUROLOGIA

Orientadora: Profa. Dra. Esther Jean Langdon

RESUMO

A Naturologia é um campo de diálogo entre saberes em saúde caracterizado liados às diversaspela pluralidade. Abarca desde os saberes disciplinas ocidentais, como biologia, psicologia e antropologia, até prá- ticas terapêuticas não ocidentais que rementem à Índia, China e povos indígenas. O curso de graduação em Naturologia foi fundado em 1998, entretanto, tem suas raízes na contracultura dos anos 1960 e no movimento chamado de Nova Era. Os naturólogos propõem formas de atenção à saúde baseadas numa abordagem característica: a visão naturológica. Nesta visão, a natureza é abordada como uma totalidade na qual tudo e todos fazem parte, os processos de saúde/doença são vistos como a perda de integração entre o ser humano e esta totalidade e a relação terapêutica naturológica propõe simetria e horizontalidade entre o cuidador e aquele que é cuidado. É a partir da educação em saúde que os naturólogos desenvolvem sua prática terapêutica, chamada de relação de interagência, que ssãossional da Naturologia. Esta nova proé o grande diferencial do pro ainda está em fase de regulamentação no Brasil e tem grande abrangência: spas, clínicas, consultórios, escolas, universidades, cruzeiros marí- timos, ONGs e o Sistema Único de Saúde, são alguns dos lugares onde os naturólogos estão trabalhando. Esta dissertação vem complementar as exões do único trabalho de pós-graduação sobre a Naturologia escritore por uma cientista social no Brasil. Descrever e analisar o diálogo de saberes na Naturologia foi importante para a ampliação do conhecimento acerca das abordagens e práticas de saúde contemporâneas, assim como liação com as culturas psi e com as insatisfaçõescar sua possível para identi cial. Para compreender comoconcernentes ao sistema médico o os diferentes saberes ocidentais e não ocidentais estão sendo assimilados no ensino da Naturologia, foram analisados documentos institucionais da UNISUL, uma das duas universidades onde o curso de graduação é reconhecido pelo Ministério da Educação no Brasil. Para compreender como os naturólogos estão operando o diálogo entre saberes em seu cotidiano conversei com naturólogos formados nesta mesma instituição. A ca foi norteadora deste trabalho, que busca dar vozdescrição etnográ aos naturólogos para que apresentem quem são e digam o que fazem. Observou-se que a Naturologia mantém continuidades e descontinuidades com relação ao movimento da Nova Era. Se, por um lado, herda deste movimento a pluralidade de saberes e a ênfase no indivíduo, por outro, rompe com este movimento ao institucionalizar-se e ao negar um caráter místico ou esotérico ao seu campo de saber. O sujeito que emerge do contexto pesquisado pode ser visto sob dois pontos de vista: um sujeito psicologizado que reproduz um discurso característico das culturas psi, ou ssional que contesta o estabelecido e propõe formas renovadas deum pro ssional operaconstruir conhecimento e promover a saúde. Este novo pro uma diálogo entre saberes, conduzido pela visão naturológica, ao passo que a visão naturológica é construída pelo diálogo que ajuda a conduzir, constituindo este campo como um caleidoscópio de saberes em saúde.

Palavras chave: Naturologia; Abordagem integral; Dialogo de saberes; Culturas psi.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0333-D.pdf

 

2012

Paola Andrade Gibram

POLÍTICA, PARENTESCO E OUTRAS HISTÓRIAS KAINGANG: UMA ETNOGRAFIA EM PENHKÁR

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos

RESUMO

Esta dissertação apresenta como tema central a política entre os índios kaingang, tendo como foco os Kaingang da TI Rio da Várzea (RS), região também conhecida como Penhkár. Considerando que o domínio político ultrapassa os planos público e masculino de atuação, busca-se realizar descrições centradas no domínio doméstico e no plano da sociabilidade, colocando luz sobre os mecanismos pelos quais os indígenas concentram relações, revelam proeminências, e assim constituem figuras da liderança e unidades sócio-políticas. Temas como guerra, faccionalismo, autoridade, chefia e coerção são retomados a partir de releituras de registros históricos e da crítica emergente desta etnografia. Apresenta-se, por fim, uma reflexão sobre os processos indígenas de mimetização dos sistemas jurídico e punitivo dos ‘brancos’, propondo conexões com a questão da afinidade kaingang.

Palavras-chave: Kaingang, política ameríndia, parentesco kaingang, história.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0288-D.pdf


Glauco B. Ferreira

ARCO – ÍRIS EM DISPUTA: A “PARADA DA DIVERSIDADE” DE FLORIANÓPOLIS ENTRE POLÍTICAS, SUJEITOS E CIDADANIAS.

Orientadora: Dra. Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Baseando-se na análise de discursos e de práticas sociais, esta dissertação procura apresentar uma visão contingente a respeito das performances que constituem a “Parada da Diversidade”, evento festivo e político de comemoração e luta da população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) na cidade de Florianópolis, de modo a apreender e debater a partir deste contexto as concepções ali elaboradas sobre sujeitos e direitos LGBT. A partir da constatação de que a Parada é organizada por uma associação de empresários, agrupados em torno da AEGLBT/SC (Associação de Empreendedores GLBT de Santa Catarina), notou-se a existência de disputas que ocorriam entre estes organizadores e alguns ativistas e grupos do movimento LGBT local. Deste modo, o trabalho buscou abordar a Parada enquanto contexto permeado por estas disputas: fossem estas sobre quais são os sujeitos ali representados ou sobre táticas legítimas que permeavam os modos de ação e fazer políticos para obtenção de direitos para estes indivíduos, tratando de discutir assim os tênues limites entre a festa e a política em um evento deste tipo. Neste sentido, aponta-se para a pertinência de analisarmos os diferentes sentidos que frases e declarações a respeito de sujeitos LGBT e seus direitos ganham em instâncias discursivas distintas, influenciando narrativas, interpretações e experiências, assim como as diferentes X A r c o – Í r i s e m d i s p u t a . avaliações a respeito da Parada. Aí se articulam noções sobre a “eficácia” do evento, seja esta em termos políticos, mercadológicos ou simbólicos. As discussões sobre estes sujeitos LGBT e sobre seus direitos, que se referenciam ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, expandem as concepções modernas acerca da cidadania, são tomadas como questões que atravessam este trabalho. A pesquisa foi realizada através de uma abordagem etnográfica em que os métodos e técnicas de observação-participante e as conversas informais tiveram papel importante, tendo aí como foco o contexto de preparação e realização da Parada, de modo a detectar as histórias em torno de seu surgimento e as relações entre agentes aí envolvidos.

Palavras-chaves: Paradas do Orgulho LGBT no Brasil; Performances e ações políticas; Sujeitos e identidades LGBT; Direitos e cidadania LGBT no Brasil

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0286-D.pdf


Priscila Noernberg

CHIMARRÃO E(M) CANOINHAS/SC: TOMAR, SABER, FAZER E COMUNICAR

Orientador: Dr. Alberto Groisman

Coorientadora: Dra. Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Estudar os sentidos das práticas associadas ao tomar chimarrão é o objetivo deste trabalho. Por meio da etnografia, busca-se refletir sobre o cotidiano do uso partilhado do mate no ambiente doméstico e nas rodas de chimarrão em Canoinhas. O município faz parte de uma das regiões de Santa Catarina onde ainda há grande produção e beneficiamento da erva-mate, uma das matérias-primas para o preparo do chimarrão. As reflexões apontam para um olhar que ultrapasse a perspectiva do senso comum e de estudos sistemáticos que abordam as rodas e outros eventos que envolvem o tomar chimarrão como sendo espaços onde a centralidade é a “busca de amizade”. Estes eventos, e particularmente as rodas, são lugares onde é possível perceber hierarquias, tensões e diferenciação. Além disso, podem ser espaçosmomentos para “atualizar-se” e trocar informações, onde muito mais é comunicado. A pesquisa nesta cidade aponta ainda para como cada um impõe um pouco de si ao tomar e ao fazer o chimarrão.

Palavras-chave: chimarrão, tomar, fazer, saber, comunicar, Canoinhas

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0291-D.pdf


João Carlos Albuquerque Souza de Almeida

TAPANAWANÃ: MÚSICA E SOCIABILIDADE ENTRE OS YAWALAPÍTI DO ALTO XINGU

Orientador: Rafael José de Menezes Bastos

RESUMO

Esta dissertação é um estudo sobre o cerimonial alto-xinguano que busca integrar uma revisão da bibliografia pertinente a esse tema com uma experiência etnográfica entre os Yawalapíti. O objeto focal é o sistema cerimonial alto xinguano. Quer-se compreender o papel da música e do ritual musical na formação do sistema pluriétnico e multilíngue do Alto Xingu – especialmente os Yawalapíti – e na formação da pessoa alto-xinguana. O objetivo é, por meio da literatura, das informações obtidas em campo e de uma descrição etnográfica do tapanawanã, entender como o ritual estabelece, renova e articula relações, e o quanto tais relações são essenciais para a formação do Alto Xingu enquanto sistema integrado. A relação que delimita este trabalho é a familiarização da alteridade, esta dividida em humana e não-humana. O ritual musical se apresenta como uma máquina de familiarizar a alteridade, fazendo com que se trave uma relação produtiva, contornando a tensão precedente. A noção de doença e o parentesco, além da mitologia e a música do tapanawanã, são as portas de entrada para perceber os processos relacionais do Alto Xingu.

Palavras-chave: Etnomusicologia, Yawalapíti, Sociabilidade, Ritual

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0292-D.pdf


Maycon H.F. De Melo

NARRATIVAS DE FUTEBOL: ETNOGRAFÍA DA MÍDIA NO AVAÍ FC (FLORIANÓPOLIS/SC).

Orientadora: Dra. Carmen Rial

RESUMO

Esta etnografia é um estudo das performances de jornalistas e jogadores de futebol do Avaí FC durante entrevistas esportivas em Florianópolis,SC. Os sujeitos da pesquisa são repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e jogadores, assessores de imprensa e dirigentes do Avaí FC. Ao etnografar os momentos espetaculares dessa relação, onde se constrói imagens mundialmente reconhecidas do futebol, a dissertação descreve e analisa estas entrevistas enquanto situações ritualísticas, refletindo sobre as dimensões culturais e simbólicas da comunicação no futebol. Tendo como eixo central dessa reflexão a eficácia destes símbolos nestas narrativas de futebol, analiso como são construídas estas performances, enfocando os aspectos não-discursivos e os diferentes níveis retóricos utilizados pelos sujeitos na interação. O objetivo foi construir um modelo de interpretação sobre o termo êmico “fazer” utilizado pelos jornalistas quando se referem ao trabalho com os jogadores, que identifiquei em cinco gêneros de performance no Avaí FC – treino, aeroporto, especial, jogo e coletiva. A etnografia dessas performances revelam elementos que tencionam as prerrogativas econômicas e as dimensões de verdade-falsidade atribuídas a esta interação na mídia. Durante a etnografia foram elaborados quatro documentários etnográficos, não apenas como forma de expressão, mas como forma de problematização da pesquisa delimitada pelo uso da câmera no trabalho de campo. As imagens indicaram diferentes formas de engajamento dos interlocutores com os filmes produzidos, fizeram com que, juntos com o antropólogo, estivessem implicados na construção daquilo que se tornou visível e público acerca das entrevistas no contexto do futebol de espetáculo.

Palavras Chave: Narrativas de Futebol, Media, Performance, Documentário Etnográfico.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0293-D.pdf


Bianca Ferreira Oliveira

PESSOA, JOCOSIDADE E MORAL A PARTIR DE UMA FAMÍLIA DE SANTO DE ALMAS E ANGOLA

Orientadora: Profa. Dra. Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Busco com este trabalho contribuir aos estudos sobre religiões afro-brasileiras tendo como foco as moralidades sexuais de um grupo de pessoas que frequentam um terreiro de Almas e Angola em Florianópolis. Concomitantemente fazer uma discussão em torno das noções e expressões de moralidades. Para tal discussão tomo como ponto de partida três eixos de análise, 1) a construção da pessoa e corpo, 2) as relações de parentesco na família de santo e 3) a jocosidade como forma de expressão das moralidades. Meu argumento central é de que as relações na família de santo são fundamentais para a formação da pessoa em termos morais, assim como os rituais de passagem que vislumbram a construção de corpos e pessoas. Trato das relações na família de santo, objetivando discutir as relações de parentesco no santo e suas dimensões morais presentes nas regras de condutas. Ou seja, com base nas permissões e proibições de relacionamentos tentar relacionar como essas questões podem servir para pensar sobre a moralidade no grupo. Para por fim pensar na jocosidade e na prática em si das brincadeiras como uma forma, não totalizadora, muito específica que pode ser pensada como um domínio relativamente autônomo, que se relaciona também com a moralidade.

Palavras chave: moralidades; família de santo; jocosidade.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0295-D.pdf


Marcelo da Silva

UÉ, GAÚCHO EM FLORIPA TEM SAMBA? UMA ANTROPOLOGIA DO SAMBA E DO CHORO NA GRANDE FLORIANÓPOLIS ONTEM E HOJE

Orientadora: Profa. Dra. Vânia Zikán Cardoso.

RESUMO

Este trabalho busca através das falas de sujeitos negros da Grande Florianópolis perceber um universo sociocultural das práticas musicais dos sambistas, chorões e partícipes do mundo do samba e de sua socialidade. Esta etnografia histórica sobre o samba e choro na região da Grande Florianópolis, tem seu limite temporal a partir da década de 1940 e 1950, momento esse situado dentro do processo de consolidação dos ideais de modernidade advindos da nova ordem republicana, em Santa Catarina, e das reformas urbanas patrocinadas pelas elites locais de Florianópolis. Esses eventos históricos, citados nas falas dos sambistas e chorões, são o pano de fundo que revela a construção de uma sociomusicalidade produzida por negros(as) na capital catarinense e que atravessa o século XX por meios de suas rodas de samba, dos grandes bailes nos Clubes Negros, nas gafieiras e nos prostíbulos e durante carnavais inesquecíveis em que as agremiações disputaram ferrenhamente cada título. Esta etnografia do samba e do choro, se desloca através das histórias e descrições dos sambistas e chorões do passado, para as histórias que se atualizam hoje em bares que se tornaram redutos desse samba na contemporaneidade, espaços sociomusicais que serão apresentados aqui, como o Bar do Tião, o Bar Praça Onze e o Bar do Jacaré, reduto do Grupo Samba 7, mais antigo grupo de samba, que continua a se apresentar em diversos eventos no estado catarinense.

Palavras chave: Samba e Choro, Negros em Santa Catarina, Oralidade , Música Popular Brasileira, Etnografia Histórica.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0299-D.pdf


Letícia Moreira Braga Coelho

DO CERRADO AO MINISTÉRIO DA CULTURA: TRÂNSITOS E CONSTRUÇÕES DE UM MESTRE E SEUS TAMBORES

Orientador: Rafael José de Menezes Bastos

Co-orientadora: Edviges Ioris

RESUMO

Esta dissertação apresenta Antônio Luiz de Matos, Mestre Antônio. Conduzida por narrativas e práticas desse sujeito, esta pesquisa descreve a trajetória biográfica de Mestre Antônio e de sua família pelo Vale do Jequitinhonha – MG – bem como seus trânsitos pelas políticas culturais brasileiras e pelo chamado “mundo do cerrado”. Ao mesmo tempo, esta pesquisa é composta pela descrição etnográfica dos conhecimentos desse Mestre, um jequitinhonhense capaz de negociar com seres e entidades do cerrado a retirada de árvores, as quais são transformadas por ele em tambores e caixas de Congado – instrumentos musicais. As operações realizadas por esse sujeito desvelam novas formas de pensarmos temas como tradição, observação, ancestralidade, cerrado, instrumentos musicais e também o Vale do Jequitinhonha enquanto uma região produtora de artistas em Minas Gerais. Sem intenção de dissolver esse Mestre muito menos caricaturá-lo, esta dissertação traz os resultados de uma negociação de realidades e intencionalidades.

Palavras chaves: Mestre, Biografia, Políticas Culturais, Cerrado, Organologia.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0301-D.pdf


Simone Litwin Prestes

SENTIDOS E IMAGENS DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM ERECHIM/RS NA IMINÊNCIA DE SUA PRESERVAÇÃO INSTITUCIONAL

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alicia Norma González de Castells

RESUMO

Esta dissertação é resultado de uma pesquisa de campo realizada durante o processo, em curso, de preservação institucional do patrimônio cultural no município de Erechim/RS. A política de preservação é abordada através de suas etapas: produção, proteção e recepção do conjunto de bens, num processo que tem gerado diferentes opiniões, anseios e ações entre os cidadãos. O trabalho dá ênfase a Arquitetura de Madeira e aos agentes do campo do patrimônio. As edificações de madeira são analisadas como síntese entre os conceitos de patrimônio material e imaterial, visto que além de preservarem uma imagem que remete ao passado da cidade, são representativas do modo de construir dos imigrantes italianos e são envolvidas por relações sociais – práticas, laços familiares e memórias – que as humanizam e garantem sua conservação e permanência, apesar das transformações no espaço urbano. Os sentidos de preservação e tombamento são problematizados a partir de uma edificação de madeira pesquisada em profundidade, a Casa da Família Rigoni. As ações de diferentes agentes do campo patrimonial são abordadas através da problematização do patrimônio como marca da cidade e como experiência cotidiana, além de ser ressaltada a relevância da atividade turística agregada à política de preservação do patrimônio cultural municipal.

Palavras chaves: política de preservação patrimonial, patrimônio material e imaterial, arquitetura de madeira, Erechim/RS.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0303-D.pdf


Maria Fernanda Salvadori Pereira

GRAVIDEZ, CORPO E PESSOA: A FORMAÇÃO DA CRIANÇA NA COSTA DA LAGOA (FLORIANÓPOLIS)

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Esta etnografia analisa as concepções e práticas relacionadas à formação da criança, na localidade da Costa da Lagoa, Florianópolis, estado de Santa Catarina (Brasil). Como ferramentas metodológicas, utilizou-se a observação participante e conversas informais com os moradores sobre as experiências e interdições, desde a descoberta da gravidez ao puerpério, e ao longo da infância, relacionadas à “formação” da criança. Ao longo do estudo notou-se que a criança, ao mesmo tempo em que é um ser individual, é também um membro representante de família e formadora de uma rede relacional. Neste sentido, sua individualização ocorre na relação, pela lógica do convívio ou do contato metonímico. Desse modo, o corpo da criança é atravessado por canais de reciprocidade que também foram canais de coparticipação.

Palavras chave: Criança. Construção. Gravidez.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0304-D.pdf


Mariane da Silva Pisani

PODEROSAS DO FOZ: TRAJETÓRIAS, MIGRAÇÕES E PROFISSIONALIZAÇÃO DE MULHERES QUE PRATICAM FUTEBOL

Orientadora: Prof. Dra. Carmen Silvia Rial

RESUMO

Sabemos que o universo do futebol, bem como o dos esportes em geral, desde sua origem é predominantemente ocupado por homens. Mulheres que praticassem qualquer tipo de modalidade esportiva eram duramente julgadas em sua feminilidade. O futebol de mulheres possui apenas 30 anos de história no Brasil, se contarmos a partir da revogação em 1979 da lei que proibia as mulheres de jogarem. É fato que muitas conquistas aconteceram, podemos notá- las isso através do crescente número de mulheres que praticam o futebol e da proliferação de campeonatos estaduais, nacionais e internacionais que acontecem anualmente pelo Brasil e pelo mundo. Partindo desses e de outros conhecimentos, iniciamos esta pesquisa em outubro de 2011 com o time de futebol praticado por mulheres, fundado na cidade de Foz do Iguaçu, oeste do estado do Paraná. O time, ADI/Foz Futebol Feminino, possui apenas dois anos de história. Tendo iniciado suas atividades em março de 2010, possui em seu elenco jogadoras – as Poderosas do Foz – de expressão nacional, bem como conquistas de alguns dos títulos mais importantes para o futebol praticado por mulheres no Brasil. Do contato com essas atletas questões como sexualidade, corpo, trajetórias pessoais, projetos de vida, dificuldades e preconceitos na carreira, profissão, profissionalização e migração surgiram e serão discutidas neste trabalho.

Palavras chave: futebol; mulher; migração; Poderosas do Foz; profissionalização

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0305-D.pdf


Marina Monteiro

A RESIDÊNCIA PSIQUIÁTRICA NO CONTEXTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA: UMA ABORDAGEM ETNOGRÁFICA A PARTIR DE SUJEITOS ENVOLVIDOS NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA DO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DE SANTA CATARINA (IPq/SC)

Orientadora: Profa. Dra. Sônia Weidner Maluf

RESUMO

Esse trabalho foi realizado com a proposta de discutir aspectos referentes ao ensino e prática de psiquiatria a partir do relato de profissionais e residentes do Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina (IPq/SC) em um contexto no qual estão em vigor as diretrizes da lei 10.216, mais comumentemente conhecida por estar atrelada às demandas do movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira. Como resultado dessa análise, observei o enfoque de uma abordagem técnica na formação da residência psiquiátrica em questão, mesmo que aspectos político-contextuais sejam considerados importantes pelos sujeitos dessa pesquisa para entender e praticar a psiquiatria atualmente. Foram discutidos outros aspectos que apareceram de forma relevante no relato dos sujeitos dessa pesquisa, como a predominância de uma abordagem biológica na prática de psiquiatria (embora, convém ressaltar, uma abordagem psicodinâmica também seja realizada), uma discussão sobre a Reforma Psiquiátrica e aspectos que fundamentam ou não a psiquiatria enquanto ciência. Também realizei algumas considerações sobre a relação nem sempre amigável entre os Comitês de Ética e pesquisas realizadas nas áreas de humanas a partir da experiência de inúmeras dificuldades que encontrei para realizar a presente pesquisa e que também foram determinantes para a realização desse trabalho.

Palavras chave: Diagnóstico; Formação biomédica; Psiquiatria

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0306-D.pdf


Aline Ferreira Oliveira

YAWA-NAWA:ALIANÇAS E PAJÉS NAS CIDADES

Orientadora: Profa. Dra. Esther Jean Langdon

Coorientador: Prof. Dr. Oscar Calávia Saéz

RESUMO

Esta dissertação mapeia a rede xamânica que os Yawanawa (indígenas pano do Acre) vêm construindo em torno dos rituais de uni (uma bebida psicoativa de o ri g e m a m a z ô n i c a c o n h e c i d a c o m o ayahuasca), em que se observa um constante fluxo entre as aldeias e diversas cidades do Brasil e do mundo, seja através de práticas x a m â n i c a s o u d e projetos culturais. A pesquisa explora elementos míticos dos Yawanawa em r e l a ç ã o a o s n a w á (“brancos”), bem como trata da reinvenção de tradições e da dialogicidade na construção da “cultura”.

Documento completo: http://tede.ufsc.br/teses/PASO0330-D.pdf

 

2011

Juliana P. Lima Caruso

Rendas da Vida: Relações Matrimonias na Costa da Lagoa.

Orientadora: Prof. Dra. Miriam F. Hartung.

RESUMO

Esta etnografia visa analisar as relações matrimoniais na Costa da Lagoa, bairro situado na cidade de Florianópolis, estado de Santa Catarina. Dentre as formas de união, a fuga matrimonial destaca-se como preferencial pelos moradores, sendo a forma de casar nesta localidade. Ainda, através do levantamento genealógico e programas computacionais que possibilitam visualizar as redes de parentesco, foi possível observar uma preferência pela união entre pessoas do mesmo lugar e principalmente, cônjuges ligados por algum laço de parentesco. Nesta delicada rede em que diversos elementos contribuem para tecê-la, pode-se encontrar a (des) construção do parentesco bem como a fuga matrimonial.

Palavras chave: Parentesco, Fuga e Antropologia.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0266-D.pdf


Kaio Domingues Hoffmann

MÚSICA, MITO E PARENTESCO: UMA ETNOGRAFIA XOKLENG

Orientador: Rafael José de Menezes Bastos

RESUMO

Esta dissertação objetiva uma aproximação ao sistema musical xokleng, grupo jê meridional situado, em sua maioria, na TI Ibirama-Laklãnõ, no estado de Santa Catarina. Procura analisar brevemente a organização social naquele nexo de suas categorias étnico-raciais, as relações entre mito e história, o parentesco, para então debruçar-se sobre as musicalidades ali presentes: a música do mato, os hinos evangélicos e a música mesmo. A primeira está ligada ao tempo mítico do qual os Xokleng extraem grande rendimento sociocosmológico, a segunda com a comunicação extra-mundana, e a terceira ao mundo do entretenimento, dos bailes e da rádio.

Palavras chaves: Xokleng, organização social, parentesco, mito, história, música xokleng.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0272-D.pdf


Izomar Lacerda

NÓS SOMOS BATUTAS: Uma antropologia da trajetória do grupo musical carioca Os Oito Batutas e suas articulações com o pensamento musical brasileiro

Orientador: Rafael José de Menezes Bastos

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo antropológico sobre o ambiente artístico-musical carioca do início do século XX, sobretudo na década de 1920, tendo como chave de entrada narrativas e eventos relacionados ao grupo Os Oito Batutas, cujo espaço simbólico ocupado na memória da música brasileira tem lugar de destaque. A partir de um trabalho de campo realizado no Rio de Janeiro, a narrativa etnográfica se baseia em minha experiência de rastrear e mapear categorias numa varredura de fontes primárias em arquivos, principalmente jornais da época. Os temas são confrontados com dados de outras narrativas constituintes desta história (jornalísticas, biográficas, memorialistas, historiográficas e musicológicas), salientando as transformações e os arranjos diferenciais destas composições, buscando contribuir para a compreensão de dinâmicas constitutivas do pensamento musical brasileiro, bem como aspectos fecundos da construção da brasilidade.

Palavras chave: a) Batutas b) Música Popular Brasileira c) Antropologia da Música d) Mito e História e) Pensamento Musical Brasileiro.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0271-D.pdf


Diogo de Oliveira

ARANDU NHEMBO‟EA: COSMOLOGIA, AGRICULTURA E XAMANISMO ENTRE OS GUARANI-CHIRIPÁ NO LITORAL DE SANTA CATARINA

Orientadora: Prof. Dra. Esther Jean Langdon.

Orientador indígena: Alcindo Vera-Tupã Moreira.

Co-orientador indígena: Geraldo Karai Okẽ‟nda Moreira.

RESUMO

Este estudo trata das formas pelas quais os índios Guarani sentem, conhecem e aprendem expresso pela noção de arandu, uma forma de conhecimento sensível que permite a capacidade de “sentir o tempoespaço ao longo da experiência no clima-mundo”. Tomando o substantivo nhembo‟ea, “fazer-se em palavras”, é interpretado como os processos de aprendizagem e a circulação de saberes que é praticada entre os Guarani como uma forma de rezo-oração. Eu convivi com a família de um casal de xamãs (karai) no aldeamento Tekoa Y‟ỹ Morotchῖ Vera (TI Mbiguaçu/SC). O fio condutor metodológico, guiado pelo termo oguerodjera, “criar-se a si mesmo no curso da própria evolução”, foi experienciar o arandu através da participação sensorial. Na primeira parte do estudo verso sobre a presença Guarani no litoral catarinense, especialmente da ocupação de famílias Chiripá e Paῖ no sul do Brasil desde o final do século XIX. Apresento um histórico da família estudada e sua iniciativa pela proteção e salvaguarda do patrimônio cultural da etnia. Relaciono esta atividade ao papel histórico do xamã entre os Guarani como líder político e religioso da família, na qual atua como nucleador de resistência da identidade grupal. Na segunda parte, sistematizo minha experiência no arandu com notas sobre a cosmologia solar e o sistema de atribuição das “almas-nome” enquanto categorias construtoras da noção de pessoa na qual nomos e cosmos são co-extensivos. A organização cosmo-espacial é explorada por meio da liderança do casal de xamãs nas atividades cotidianas e nas práticas agrícolas da aldeia. A realização dos cultivos de plantas e as relações familiares possuem um ideal de afecção e conduta regido pelo amor (mborayu), que por sua vez nutre o poder xamânico (py‟aguatchu), permitindo aos karai a reparação da ordem cosmo-social e a condução das curas. Descrevo as cerimônias religiosas e discuto o seu papel sócio-educativo entre os Chiripá, apontando que os processos terapêuticos que estão associados às curas por benzimentos xamânicos, que visam à manutenção do bem-estar psico-social do grupo. Xamanismo é o desenvolvimento de uma faculdade humana que potencializa a afetividade nas relações sociais e se expressa na atividade ritual da comunidade, constituindo o fundamento do arandu nhembo‟ea praticado pelo casal de xamãs.

Palavras-chave: Arandu; índios Guarani; etnologia; conhecimento; agricultura; aprendizagem; experiência.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0284-D.pdf


Carlos Francisco Cárdenas Ángel

A POLÍTICA DE OBJETOS E SUJEITOS: Uma etnografia com um coletivo de titeriteiros e palhaços em Bogotá, Colômbia

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos

RESUMO

Esta é uma etnografia do coletivo Juventudes Titiriteras JUTI, que agrupa vários grupos de teatro de bonecos e palhaços, quase todos da cidade de Bogotá, tendo como foco as dimensões organizativa e estética do coletivo. Isto, com a intenção de elucidar a noção nativa de “o político”, que passa tanto pela tentativa de instaurar uma nova forma dos artistas organizarem-se, quanto pelos esforços por criar propostas cênicas com um componente político mais sutil e complexo. Desta forma, o exercício etnográfico serve para invocar reflexões em torno da relação entre política e estética, e suas implicações concretas no teatro de animação de objetos.

Palavras chave: títeres, palhaços, teatro de animação, arte, poder, política.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0269-D.pdf


Tatiane Melissa Scoz

“BLUMENAU TAMBÉM É A CIDADE DO RAP: PENSANDO “ESPAÇO” A PARTIR DOS RAPPERS EM BLUMENAU”

Orientadora: Profª. Drª. Vânia Zikán Cardoso

RESUMO

O presente trabalho é uma etnografia das práticas de cantores e cantoras de rap de Blumenau e sua relação com a cidade, centrada na noção “nativa” de “espaço”. Saber quais são os sentidos atribuídos a este termo, sobre quais “espaços” os rappers estão falando, o que significa ter ou não ter “espaço” para o rap numa cidade cuja representação no imaginário social remete ao mito da fundação “alemã”, foram questões que guiaram este estudo. Compreender os sentidos de “espaço” implica levar em consideração os contextos de significação dessa categoria “nativa”, que parecem estar relacionados às produções musicais dos rappers; aos grupos de rap; aos usos que os rappers fazem da Internet e dos espaços físicos da cidade; aos modos de ser rapper; e ao sentimento de pertença à “periferia”. A partir do diálogo entre saberes “nativos” e a teoria acadêmica, a noção de “espaço” parece remeter a um complexo conjunto de ideias: espaço enquanto um ambiente físico; como oportunidade para os rappers divulgarem e comercializarem suas músicas; como “territórios de subjetivação”, ou seja, como um lugar construído pelas diferentes formas de inserção e exclusão social, pelas distintas demandas de pertencimento. Estas questões permitem conhecer os “espaços” que os rappers constroem e percebem, de certa forma, como sendo seus, e os diferentes usos, reapropriações e formas de identificações e diferenciações que os rappers elaboram nos lugares que ocupam e/ou habitam, criando uma cartografia do rap em Blumenau e afetando os próprios olhares sobre a cidade.

Palavras chave: rap, espaço, Blumenau, performance, música.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0274-D.pdf


Rafael De Oliveira Rodrigues

Nos tempos dos “Charutos Prateados”: um olhar etnográfico sobre a construção de uma antiga base de atracação de zeppelins como um lugar de referência do Recife

Orientadora: Profª. Drª. Alicia N. G. de Castells

RESUMO

Esta dissertação procura analisar os desdobramentos das intervenções patrimoniais que vêm sendo aplicadas pelo poder público, tomando como referente o processo de construção de uma antiga base de atracação de zeppelins como um lugar de referência histórica para cidade do Recife. É resultado de uma pesquisa etnográfica que teve como foco de análise, por um lado, as práticas de apropriação e produção de lugares neste espaço, tanto pelo poder público (o IPHAN, a prefeitura do Recife e o Estado) quanto pela população dos três bairros que compõem o entorno da área (Jiquiá, Mangueira e San Martin); por outro lado, as ressonâncias provocadas com o reconhecimento e a produção deste espaço como um lugar de referência, tanto na população do entorno quanto na população do Recife. Durante os anos de 1930 a 1937, o Jiquiá foi uma escala na rota dos zeppelins. Atualmente, o antigo aeroporto dos dirigíveis, conhecido na cidade como Campo do Jiquiá, está sendo alvo de uma série de intervenções patrimoniais que propõem transformá-lo em um Parque Científico-Cultural, com base na história das aeronaves no local. Todavia, ao longo dos anos, o entorno da área tem sofrido com um processo de favelização, o qual tem atingido a área do futuro parque. A importância deste trabalho se dá, portanto, em discutir e problematizar como as políticas patrimoniais no Brasil repercutem no cotidiano das populações em contato direto com estes bens, mas também como estas populações vivenciam e experienciam este patrimônio. Conclui-se observando as ambiguidades nas formas através das quais o poder público e a população do entorno, mas também da cidade, se apropriam do espaço local produzindo lugares e sentidos de referências divergentes.

Palavras chave: Apropriação do espaço, Lugar de referência, Campo do Jiquiá, Parque Científico-Cultural, patrimônio, Recife, zeppelins.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0278-D.pdf


Jonatan Mariano Rodas Gómez

“Os estudantes e o mundo da política” Análise das experiências políticas dos estudantes da Universidade de São Carlos da Guatemala na perspectiva do drama ritual

Orientador: Prof. Dr. Theophilos Rifiotis

RESUMO

A presente dissertação consiste numa etnografia das experiências políticas entre os estudantes da Universidade de São Carlos da Guatemala. Nela, festas, greves, caminhadas, processos eletivos e outros acontecimentos em que os estudantes disputam o poder, dentro da Universidade e fora dela, são analisados como eventos críticos que expressam dramaticamente os principais elementos que configuram o seu “mundo da política” e, ao mesmo tempo, contribuem para a configuração dos estudantes universitários sancarlistas como sujeitos políticos. A perspectiva segundo a qual são analisadas as experiências focaliza a noção de drama social, conforme desenvolvida pelo antropólogo Victor Turner. O trabalho busca, por um lado, contribuir para uma compreensão mais aprofundada da atividade política estudantil universitária a partir do modo como os próprios sujeitos compreendem e experimentam o seu mundo social, dos sentidos que lhe atribuem e das formas como interagem nele; por outro lado, pretende despertar o interesse analítico sobre estes sujeitos que têm sido historicamente identificados como atores fundamentais na vida política da Guatemala.

Palavras chave: Estudantes universitários da Guatemala. Política. Ritual. Drama social.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0280-D.pdf


Viviane Coneglian Carrilho De Vasconcelos

TRAMANDO REDES: PARENTESCO E CIRCULAÇÃO DE CRIANÇAS GUARANI NO LITORAL DE SANTA CATARINA

Orientadora: Prof. Dra. Antonella Tassinari

RESUMO

Esta dissertação tem seu foco nos casos de circulação de crianças entre os Guarani de Santa Catarina e suas relações com os processos de parentesco. Entendendo a circulação de crianças enquanto a transferência delas e sua criação entre e dentro das parentelas, buscou-se mapear as redes em que se movimentam ao mesmo tempo sociais e de parentesco, percebendo algumas recorrências e modos mais frequentes de relacionar-se e, principalmente, a importância atribuída aos avós na preferência pela criação delas. O campo foi realizado em três tekoa – aldeia – nas quais se podem perceber interligações sociais densas e considerável fluxo de transferências de crianças: Itaty – Morro dos Cavalos em Palhoça, Yvyã Yvate – Morro Alto em São Francisco do Sul, e Yynn Moroty Whera – M’Biguaçu em Biguaçu. Tendo como eixo central a importância da perpetuação das Palavras na cosmologia Guarani e o caráter divino atribuído à fala, a dissertação analisa as relações entre criança, construção da pessoa (e aquisição da fala), parentesco e circulação de crianças. Tendo como interlocutores adultos e crianças, observou-se que a decisão sobre o local de residência das crianças é negociada por todos os envolvidos, incluindo as crianças. Procura-se mostrar a importância desta prática, a circulação de crianças, para a perpetuação, manutenção e integridade do tekó – o modo de vida – Guarani e para a introdução de não-indígenas nas instituições e processos de parentesco nativos.

Palavras chave: Criança Guarani, Parentesco e Circulação de Crianças.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0282-D.pdf

 

2010

Andrea Marcela Pinilla Bahamón

A BULLA NA CIDADE. UMA ETNOGRAFIA DA APROPRIAÇÃO DO BULLERENGUE POR MÚSICOS DA CIDADE DE BOGOTÁ.

Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos

RESUMO

Esta é uma aproximação etnográfica ao recente processo de apropriação feito por músicos da cidade de Bogotá do bullerengue, um gênero reconhecido no senso comum colombiano como “música tradicional afro”, elemento que até faz recentemente foi motivo suficiente para ser um gênero rejeitado. A presente pesquisa, faz parte de uma Antropologia da Música, apoiada na idéia de que os processos musicais informam sobre outros fenômenos da sociedade, expõe como dito fenômeno está mediado pelo que eles denominam como uma procura de raízes, tensões entre o feminino e o masculino, e a procura dos seus efeitos terapêuticos.

Palavras chave: apropriação, música, bullerengue, Colômbia.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0268-D.pdf


Larissa Migliavacca Pacheco

Entre “nativos” e “de fora” estudo etnográfico sobre nuanças identitárias no Centro Histórico de cidade litorânea no sul do Brasil, Garopaba/SC

Orientadora: Profa . Dra . Alícia Norma González de Castells

RESUMO

Neste trabalho são analisadas questões relacionadas aos processos identitários recorrentes na cidade de Garopaba/SC, especificamente no centro histórico. Em tais processos, as relações entre “nativos” e “de fora” são dominantes. A análise permeou práticas e discursos de seus diversos moradores e freqüentadores. Constatou-se que para os “nativos” há um ideário comum ligado ao centro histórico, seja através das práticas atreladas ao mar, seja aos hábitos açorianos como os da pesca e das comidas, bem como as especificidades presentes nos jogos de comunicação, gírias locais, nomes dados aos becos do centro histórico, a tradição da organização da festa de Nossa Senhora dos Navegantes, entre outras. Para eles, “Os ‛de fora‟ sempre serão “de fora”‟. Já, para os “de fora”, os “nativos” precisam ser conscientizados de seus valores, de suas paisagens, de seus bem patrimoniais, para assumirem sua condição de “nativos”. Esta série de percepções e sentidos que abarcam as identidades em Garopaba, particularmente no centro histórico, oscilam entre posições e lugares caracterizados por certa fluidez e flexibilidade. Podese concluir que os contornos territoriais do centro histórico, aliados às práticas e aos usos realizados naquele local, expressam as características presentes em tais relações.

Palavras chave: identidade, sociedades complexas, patrimônio, antropologia urbana.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0264-D.pdf


Ari Ghiggi Junior

ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE ALCOOLIZAÇÃO ENTRE OS ÍNDIOS KAINGANG DA TERRA INDÍGENA XAPECÓ: DAS DIMENSÕES CONSTRUTIVAS À PERTURBAÇÃO

Orientadora: Profa . Dra . Esther Jean M. Langdon

Co-orientador: Prof. Dr. Flávio Braune Wiik

RESUMO

Este trabalho é uma tentativa em compreender a alcoolização entre os índios Kaingang da Terra Indígena Xapecó através de uma perspectiva antropológica. Através deste conceito chave, torna-se evidente o esforço em deslocar a abordagem acadêmica acerca da utilização das bebidas alcoólicas do paradigma epidemiológico, que entende o fenômeno como doença biomédica, para outro mais etnográfico que contemple a heterogeneidade de dimensões socioculturais envolvidas. A problematização do conceito alcoolismo é evidente a partir da pesquisa de campo, a qual sugeriu o desdobramento da discussão sob duas frentes interconectadas. Uma demonstrando que estas substâncias mediam a construção de redes de relações sociais que se estendem para além dos limites da Terra Indígena na busca de acesso às bebidas, assim como a demarcação de espaços e modos específicos e legitimados de utilização destas substâncias. A outra apontando para os entendimentos elaborados pela população local dos problemas relacionados à utilização das bebidas alcoólicas, que dizem respeito fundamentalmente a formas impróprias de utilização implicadas na visibilidade pública dos alcoolizados e nas atitudes violentas dos mesmos. Neste sentido, formas de controle social são ambiguamente empregadas na regulação deste processo, ora incentivando a utilização das bebidas alcoólicas ora impedindo-a.

Palavras chave: Alcoolização, Índios Kaingang, Etnologia Indígena.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0263-D.pdf


Sandra Carolina Portela García

DIABETES E HIPERTENSÃO ARTERIAL ENTRE OS INDÍGENAS KAINGANG DA ALDEIA SEDE, TERRA INDIGENA XAPECÓ (SC): PRÁTICAS DE AUTOATENÇÃO EM UM CONTEXTO DE INTERMEDICALIDADE.

Orientadora: Profa . Dra . Esther Jean M. Langdon

RESUMO

O diagnóstico de diabetes e hipertensão arterial entre os Kaingang da aldeia sede, Terra indígena de Xapecó (SC), tem desencadeado uma série de práticas de autoatenção que dão conta de um contexto intermédico particular existente nesta região, nas que são articulados, apropriados, reapropriados e ressignificados uma série de elementos provenientes de pelo menos três tradições médicas: conhecimento médico “tradicional” Kaingang, o conhecimento biomédico e a construção da saúde, doença e a dupla corpo-espírito inseridas a partir da forte presença das igrejas pentecostais na região. No presente texto, e a partir das experiências de Kaingang que se autorreconhecem como “diabéticos” ou “hipertensos”, ou que manifestam haver superado estes diagnósticos, pretendemos dar conta desta dinamicidade, observando como estas práticas refletem os conflitos e harmonias existentes entre ditas tradições médicas, e dão conta da necessidade de problematizar certas noções como a de “educação em saúde” e, em um sentido mais amplo, na noção de “atenção diferenciada” que atualmente se constitui como a “pedra angular” que norteia a Política Nacional de Atenção em Saúde para Povos Indígenas no Brasil.

Palavras chave: Diabetes, hipertensão arterial, Kaingang, praticas de auto atenção, antropologia da saúde, saúde indígena, atenção diferenciada.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0257-D.pdf


Diego Faust Ramos

O TEMPO KAMAYURÁ

Orientador: Prof. Dr. . Rafael José de Menezes Bastos

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0256-D.pdf


Dina Susana Mazariegos García

“TRAJETÓRIA E RESISTÊNCIA” UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DAS EMERGENTES PRÁTICAS DISCURSIVAS DAS MULHERES INTELECTUAIS MAYAS DA GUATEMALA (1988 – 2008)

Orientadora: Profa. Dra. Antonella Tassinari

Co-orientadora: Profa. Dra. Miriam Grossi

RESUMO

Esta dissertação pretende revelar como os processos econômicos, políticos e sócio-culturais, permitiram a constituição e a emergência das práticas discursivas de dez intelectuais mayas, interlocutoras neste trabalho. Além disso, coloca em evidência como os fatos de subjetivação e objetivação dessas mulheres tiveram um papel fundamental na construção de suas trajetórias bem como, de suas diversas estratégias de resistência e transgressão. Tais estratégias resultaram em uma profunda transformação pessoal, constituindo-se também em paradigmas diferentes para as próximas gerações de mulheres mayas e para a sociedade guatemalteca em geral. Adotei como ponto de partida os relatos de dez histórias de vida que tem como pano de fundo a violência extrema contra as mulheres vivida na cotidianidade guatemalteca. Destes relatos destacam-se as relações de poder, tendo como base teórica Michel Foucault, que as explica como uma força que coage, disciplina e controla os individuos através do aparato ideológico, burocrático e bélico. Essas relações de poder e suas diversas expressões serão enfatizadas a partir da intersecção com o gênero, a classe e a etnia, a fim de entender os nexos existentes entre as identidades dessas mulheres e seu trabalho político e intelectual. Epistemologicamente, a Antropologia Feminista é o eixo que guia esta etnografia, já que como ferramenta teórico-metodológica torna visível o lugar das mulheres, assim como também valoriza a questão da subjetividade e o significado da experiência individual, acadêmica e coletiva dos sujeitos da pesquisa. Paralelamente, como metodologia, revisou-se os aportes teóricos do modelo foucaulteano da “genealogia e arqueologia do saber”, para estabelecer a emergência das práticas discursivas. E, para alcançar este objetivo, se privilegiou a metodologia qualitativa, pois esta dá ênfase ao estudo dos processos sociais. Como parte da estratégia metodológica buscou-se trabalhar com a técnica de “Histórias de Vida e testemunhos”, portanto, no que se refere aos procedimentos metodológicos, cabe mencionar que a etnografia aqui não é apenas pensada como um conjunto de técnicas, mas sim como uma articulação entre dados empíricos e teóricos que acaba por fornecer, na fase final do trabalho, um texto de cunho antropológico. A importância deste estudo sobre as mulheres indígenas torna-se mais uma ferramenta para que se identifiquem eventos cotidianos de resistência e transgressão nos espaços rituais, políticos, acadêmicos, territoriais, sociais, étnicos e religiosos. Finalmente percebe-se que embora, as protagonistas desta etnografia se desenvolvam em um sistema dominante neoliberal, elas emergem com uma série de práticas discursivas, com as quais propõem e participam da construção de uma sociedade mais equitativa, enriquecendo e transformando o conteúdo simbólico, político e social das mulheres indígenas da Guatemala e, nesse sentido, das mulheres indígenas do mundo. Mulheres intelectuais mayas que como menciona Edwar Said (1996) desmistificam, que criticam, que estão sempre alertas à manipulação do poder e, sobretudo, lutam por sua independência intelectual, tanto através de seus espaços privados quanto públicos, onde elas transitam permanentemente.

Documento completo: http://www.tede.ufsc.br/teses/PASO0250-D.pdf