Cidadania e Direitos

No que diz respeito à cidadania e direitos, uma das contribuições centrais das redes de pesquisa do Instituto Brasil Plural está em oferecer subsídios relevantes para políticas públicas, gerando assim impactos diretos nas populações estudadas. Cabe sublinhar também as iniciativas voltadas para ações de retorno dos resultados das pesquisas às comunidades estudadas. Listamos abaixo alguns subprojetos, vinculados a diferentes redes de pesquisa, cujos objetivos incluem atividades neste sentido. Destaca-se que, em consonância com a proposta da pluralidade que norteia o Instituto, essas iniciativas estão direcionadas para diferentes grupos, indígenas e não indígenas – Yanomami, Queros Waipicheri, Guarani, Munduruku, Kaingang, rendeiras de Florianópolis, comunidade surda da Várzea Queimada, moradores do entorno da Lagoa do Sombrio em Santa Catarina, grupos quilombolas, entre outros – e abrangem distintas regiões do país: Amazônia, fronteira Brasil/Peru, fronteira Brasil/Venezuela, Piauí, Roraima e Santa Catarina.

Na rede (Políticas e redes) x (heterogêneas e comparadas) o subprojeto A política Yanomami em Brasil e Venezuela: comparando transformações pretende comparar políticas públicas direcionadas para populações indígenas em diferentes países, especificamente no Brasil e na Venezuela, contrastando os efeitos das políticas públicas nacionais na organização e tipo de participação política yanomami. Outro projeto desta rede que enfoca as associações yanomami é Hutukara: uma etnografia da associação indígena Yanomami, que inclui entre seus objetivos contribuir na elaboração de políticas públicas direcionadas para a esta população. Por meio do subprojeto Genealogia das relações políticas nos corredores entre as terras altas e baixas na região de Madre de Dios (fronteira Peru-Brasil) procura-se reforçar as articulações dos Queros Wachiperi, tanto em relação aos fatores dissolventes por efeito da migração quanto no que diz respeito ao contexto particularmente conflitivo na região de Madre de Dios (mineração informal, exploração de hidrocarbonetos, megaprojetos viais e hidroelétricos etc.). O subprojeto Redes de intercâmbio e aviamento no Médio Purus e Guiana Oriental pretende contribuir para o conhecimento sobre a região do Médio Purus e para fornecer subsídios para as políticas públicas nesta região. Finalmente, Relações indígenas, pontos de vista e projetos de desenvolvimento na Amazônia fornecerá, através da análise etnográfica, subsídios relevantes em torno a uma discussão que com certeza se manterá no debate nacional durante anos: a controvérsia ambiental, social e política ligada à construção da hidroelétrica de Belo Monte.

Na rede Museus, coleções e patrimônios plurais o subprojeto Hierofanias do popular nos acervos do Museu Amazônico da UFAM e do Museu Oswaldo Rodrigues Cabral da UFSC: bois, rendas e outras peças plurais, partindo da preocupação apresentada pelos sujeitos da pesquisa com relação às dificuldades encontradas para colocar seu produto no mercado, apresentou a proposta de testar a confecção de rendas de bilro de modo a possibilitar a produção de um artesanato diferenciado e com valor agregado. Os primeiros resultados desse trabalho, realizado em parceria com o programa Ecomoda/Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), foram apresentados em um evento de moda e artesanato sustentável na cidade de Paraty/RJ, o Paraty Ecofashion (agosto de 2011). Pretende-se dar continuidade, realizando outras iniciativas na mesma direção.

Na rede Navegando nas imagens – patrimônio ambiental e antropologia visual o subprojeto Uso da Percepção Ambiental como Instrumento de Gestão: Atores Sociais do Entorno da Lagoa de Sombrio, Sul de Santa Catarina, Brasil prevê a elaboração de oficinas nos municípios do entorno da lagoa de Sombrio/SC como uma forma de promover a educação ambiental e a cidadania. Estas oficinas serão direcionadas para instigar a percepção ambiental dos atores sociais através da apreensão de uma proposta metodológica com enfoque nos conflitos ambientais locais; auxiliar os atores sociais na elaboração de suas atividades de planejamento de identificação de conflitos ambientais e criação de ações estratégicas de gestão dos conflitos ambientais; e promover a participação efetiva da comunidade local na elaboração de estratégias de gestão de conflitos ambientais.

No âmbito do subprojeto Práticas de Autoatenção, redes, itinerários e políticas públicas, vinculado à rede Saúde: práticas locais, experiências e políticas públicas, uma das frentes de ação relacionadas a impacto social e difusão está ligada à realização de ações de retorno dos resultados das pesquisas às comunidades. Uma iniciativa neste sentido está ancorada na pesquisa do mestrando do Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Diogo Oliveira. A partir da articulação com o Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da UFSC e com a Secretaria de Estado de Educação de Santa Catarina, este pesquisador fará um retorno do material produzido em seu trabalho sobre as populações Guarani do litoral catarinense, por meio de conversas com os alunos do curso de Licenciatura Intercultural e da proposta da confecção de material didático pedagógico. Já o doutorando Everton Luís Pereira planeja confeccionar um mini-dicionário da Língua de Sinais da localidade de Várzea Queimada, zona rural do município de Jaicos, Piauí. Este instrumento tem o intuito de colaborar para a elaboração de políticas públicas para a população surda da localidade, na intersecção entre as diversas línguas de sinais em voga no Brasil. Finalmente, será realizada em agosto de 2012 uma oficina de retorno dos resultados das pesquisas de doutorado de Raquel Dias-Scopel e Daniel Scopel para os indígenas Munduruku da aldeia Kwatá Laranjal (AM). Serão convidadas lideranças locais, a EMSI do pólo base Kwatá e a população indígena para a discussão dos resultados das pesquisas.